Milton Nascimento sobre o governo Bolsonaro: “Bicho, que pesadelo é esse? É uma tragédia sem parâmetro”

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Milton Nascimento, abraçado a seu violão, que nunca perde de vista (Foto: Fernando Priamo)

Milton Nascimento deu entrevista para O Tempo, de MG, sobre sua live, e acabou falando do Brasil:

Você já foi vítima de racismo na infância, na carreira, já se posicionou contra esse tipo de preconceito diversas vezes. Devido aos recentes acontecimentos, houve diversos protestos pelo mundo e artistas e outras personalidades levantaram suas vozes contra o racismo. 

Toda essa mobilização pelo mundo é uma prova de que nada disso ia ficar em vão. Mas é muito importante que esse movimento agora ganhe mais força. É preciso continuar, porque é só o começo. Minha vida foi marcada pelo racismo, e isso desde a minha infância em Três Pontas, onde nem no clube da cidade me deixavam entrar. Eu ficava ouvindo os shows na praça, do lado de fora. E esse é só um único fato. O racismo, infelizmente, está aí até hoje, em todos os lugares e, aqui no Brasil, cada dia mais escancarado.

Como sua relação com a cultura indígena influenciou seu pensamento sobre o assunto? 

A cultura indígena é parte da minha vida há muito tempo. E essa é outra preocupação seríssima que eu tenho agora. É chocante saber que temos no governo um ministro do meio ambiente que quer se aproveitar da pandemia para, como ele mesmo disse lá naquela reunião maluca, aquele negócio de aproveitar “a oportunidade que a imprensa está dando (porque só fala de Covid-19) e ir passando a boiada e mudando todo o regramento”. Bicho, que pesadelo é esse?

O ator Mário Frias foi nomeado recentemente para a Secretaria Especial de Cultura, a quinta pessoa a ocupar o cargo em 17 meses de governo Bolsonaro. Que mensagem isso te passa?

Antes fosse só essa a preocupação, pelo contrário. A tragédia é muito maior que isso. Temos um governo que não confia em nada que seja relacionado à ciência. Um governo que faz piada com a palavra dos cientistas e, além de todo esse absurdo, os caras ainda têm um desprezo absoluto pela arte, pela tradição e pela história do próprio país. É uma tragédia sem parâmetro.

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