Modelo de BH relata injúria racial após homem dizer que cabelo dela ‘assusta’: ‘Eu me senti sem chão’

Desconhecido parou Ludmila Cassemiro na rua, no bairro Cachoeirinha, na Região Nordeste, para dizer que se incomodava com o cabelo dela.

FONTEPor Rafaela Mansur, do G1
Ludmila Cassemiro — Foto: Instagram/ Reprodução

A modelo, ativista e comunicadora Ludmila Cassemiro, de 21 anos, denunciou ter sido vítima de injúria racial no bairro Cachoeirinha, na Região Nordeste de Belo Horizonte, no último sábado (9).

A jovem compartilhou nas redes sociais um vídeo em que mostra um homem dizendo que o cabelo dela “assusta” as pessoas. Ele se afasta após ela falar: “Guarda o seu racismo para você”.

Ludmila contou ao g1 que estava indo para a academia quando encontrou o homem vindo na direção oposta. Ela não o conhecia e nunca tinha conversado com ele antes.

“Antes que eu pudesse dar ‘boa tarde’, ele veio até mim me atacando, dizendo que sempre quis falar que meu cabelo incomodava, que assustava as pessoas. Disse que meu cabelo era desproporcional e demonstrava autoridade, que, como fotógrafo, poderia falar do meu cabelo. Eu me senti sem chão. O choque foi tão grande que nem consegui argumentar”, disse.

Ludmila afirmou que esta não é a primeira vez que ela é vítima de racismo. A jovem já chegou a perder oportunidades de trabalho e até o emprego por causa do cabelo.

“Não foi um caso isolado, infelizmente. Já fui demitida do serviço sob a justificativa de que meu cabelo poluía o ambiente. Sempre sou invalidada porque minha imagética é colocada à frente da minha capacidade intelectual”, falou.

A modelo ainda não procurou a polícia, mas pretende denunciar o caso ao Ministério Público.

“Eu vou representar aqueles que ainda não se sentem seguros para quebrar o silêncio. Muitas pessoas me procuraram para agradecer, falando que se sentiram representadas, que eu tive coragem de falar. É só o começo, porque eu pretendo continuar me manifestando. As pessoas fazem mal por sermos quem somos, nossa vida é colocada em ameaça o tempo inteiro”, disse.

Após publicar o relato nas redes sociais, Ludmila foi procurada por fotógrafos que ofereceram ensaios gratuitos para mostrar a beleza do cabelo dela, motivo de orgulho e símbolo de resistência.

“É a minha identidade. Eu sempre usei muito produto para tirar o volume, tentar definir o cabelo, até entender que meu cabelo é crespo. Conheci o ativismo, a história, e aprendi a me amar e me respeitar. Hoje eu me amo do jeitinho que eu sou e não mudaria nada”, falou.

Crime

Injúria racial é crime previsto no Código Penal brasileiro, com pena de prisão de um a três anos e multa. Consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem.

Já o crime de racismo está previsto na previsto na Lei 7.716/1989, e ocorre quando o agressor atinge um grupo ou coletivo de pessoas, discriminando uma etnia de forma geral. Nesses casos, só o Ministério Público tem legitimidade para apresentar denúncia contra o agressor.

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