Modelos “GG” descobrem que autoestima passa longe da ditadura da magreza

Mariana e Fernanda fazem parte do time das mulheres que se sentem bem com seu corpo

O desfile vai começar. Na passarela, o destaque é a beleza, independentemente de qualquer padrão. Em lugar de modelos extremamente magras, estão mulheres com as quais muitas pessoas se identificam. Garotas acima do peso, mas que não deixam de ser bonitas. Maquiadas, bem penteadas e com roupas elegantes, elas demonstram segurança. Não se importam com o tamanho do manequim. São modelos plus size. O termo em inglês significa algo como “tamanho maior”. A profissão de modelo com mais corpo começa a engatinhar em Brasília. Mas já é popular em São Paulo e em outros países.

Para desfilar esse tipo de moda, entre muitos outros requisitos, é preciso vestir a partir do tamanho 44. Isso não quer dizer que a modelo seja obesa. Ela pode ter o corpo estilo violão, pouco visto em desfiles tradicionais. Não basta, porém, estar fora dos padrões de magreza para caber nesse ramo. É necessário ter saúde, charme, desenvoltura, ser fotogênica, simpática e, principalmente, transmitir amor próprio. No Distrito Federal, existem poucos cursos e estúdios de fotografia interessados em trabalhar com mulheres nesse perfil.

Ainda que o mercado de trabalho por aqui não seja movimentado, há quem aposte na profissão. A bancária Fernanda Ribeiro, 27 anos, moradora da Asa Norte, dedica as horas vagas à modelagem. Descobriu o próprio valor em meio aos flashes das máquinas fotográficas. Na adolescência, quando era mais magra, achava-se feia. Tinha problemas para se relacionar com as pessoas e sofria bullying na escola. “Eu não gostava de nada em mim”, admitiu.

Hoje, com 1,71m, pele negra vistosa e olhos que mais parecem duas jabuticabas, vestindo manequim 46/48, Fernanda sente-se bonita. Já fez desfiles e posou para fotos de agências. “A intenção não é fazer apologia à obesidade. Não é o gordo que é bonito, nem o magro. A mensagem é que todos podem ser belos à sua maneira”, explicou Fernanda. Amigos da modelo tentaram fazê-la desistir de entrar nesse ramo. “Muita gente me disse que era besteira, exposição demais. Disseram para eu perder peso, porque só assim seria bonita.”

Fernanda seguiu em frente, sem se importar com a falta de estímulo. Hoje, não se arrepende. Participou do Capital Fashion Week 2010, evento local que inovou e, pela primeira vez, incluiu tamanhos maiores nas passarelas. “Foi uma experiência maravilhosa. Quando uma mulher se gosta o suficiente para se arrumar, ela descobre qual roupa lhe fica bem, a melhor forma de usar o cabelo. Assim, fica cada vez mais cheia de atitude e linda”, comemorou a modelo.

Carreira

Dezenas de outras garotas de Brasília tentam seguir esse caminho. A moradora do Gama Caroline Valente, 21 anos, 1,80m de altura, olhos cor de mel, é uma delas. Caroline é dona de um salão de beleza. Na maior parte do tempo, cuida da aparência dos outros. Nas horas livres, dedica-se à própria vaidade. Desfila desde os 19 anos. Já participou do Fashion Week Plus Size, em São Paulo, e fez editoriais de moda. “Sou gordinha desde criança, mas sempre me achei bonita”, lembrou. Há dois anos, a mãe de Caroline, a funcionária pública Tânia Valente, 45, fez a inscrição da filha para uma sessão de fotos em São Paulo. “Eu quis incentivá-la a manter a confiança em si mesma”, explicou.

Caroline foi selecionada e assim começou a nova carreira. “Somente este ano uma agência se ofereceu para me agenciar. O mercado para modelos plus size ainda é pequeno em Brasília. Alguns trabalhos nem são pagos”, contou. Caroline já desfilou, por exemplo, em eventos locais voltados para noivas. Também já trabalhou em São Paulo. “A modelo não é escolhida pelo peso, mas pelas medidas. Não basta ser gordinha para participar. É preciso ter proporção, levar jeito para a coisa. Acima de tudo, é preciso transmitir autoconfiança. Se você não gostar de si mesma, como vai convencer alguém a usar o que você está mostrando?”, questiona a jovem.

Mudanças

Com as modelos plus size em evidência, Caroline acredita que o conceito de beleza está cada vez mais flexível. “Sou uma gordinha feliz. Nunca tive problemas comigo mesma. Mas sei que muitas meninas não são tão bem-resolvidas com o próprio peso. Ver mulheres como elas sentindo-se bonitas é um estímulo”, afirmou a modelo, que namora há seis anos e conta com todo o apoio do companheiro. “Por mais que você seja gordinha, tem que fazer exercício, se cuidar. No meu primeiro desfile, estavam presentes 14 modelos plus size. Todas tinham namorado. Os homens gostam de curvas”, brincou.

Os cachês, em geral, ainda são baixos. Estão entre R$ 200 e R$ 400. A maioria das modelos plus size no Brasil descobriu a possibilidade de trabalhar com moda por meio de um blog, o Mulherão. O site foi pioneiro em tratar do tema no Brasil e influenciou mulheres de vários manequins e idades. A estudante de terapia ocupacional e moradora do Cruzeiro Mariana Tavares, 19 anos, 1,76m, nunca havia pensado que podia desfilar até conhecer sites na internet sobre modelos plus size. “Sempre lidei bem com os quilos a mais. Contanto que a mulher seja saudável, não há problema em estar fora dos padrões”, comentou.

Mariana nunca fez dieta nem teve problemas para se relacionar com outros por conta da obesidade. Há meses, um problema nos joelhos se manifestou e um médico a aconselhou a emagrecer. Mariana passou a frequentar reuniões dos Vigilantes do Peso. Lá, conheceu uma agente que promove cursos, sessões de fotos e mantém o blog Garota Glamourosa, voltado para o público tamanho GG. “Ela me convidou para fazer fotos e eu topei. Depois disso, fiquei superempolgada”, relatou. No vaivém das passarelas, cada passo segue rumo à autoestima.

Fonte: Correio Braziliense

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