Monteiro Lobato: Cuidados pedagógicos – Por: ANA PAULA BRANDÃO e HELOÍSA PIRES LIMA

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A recente polêmica em torno de Monteiro Lobato acabou por destacar as bibliotecas do país. Afinal, o que os brasileirinhos escolhem para ler? Se a seleção espontânea fica à mercê de estratégias dirigidas ao potencial consumidor da tenra idade, resta notar, então, o espaço para um educador intervir. Afinal, a literatura é expressão das sociedades e cabe à criatividade deste encontrar modos de propiciar vivências, transmitir valores e princípios na mediação estabelecida com os pequenos.

O conteúdo de uma obra pode agir como um comentário sutil a chamar a atenção da gurizada para um ou outro detalhe do mundo a apreender. Já o tema racismo, em debate no caso, leva a reparar o lugar no qual as figurinhas negras são posicionadas nas cenas que recriam realidades. As Nastácias do Lobato circulam, por décadas, em inúmeras abordagens visuais. Todas, no entanto, reiteram as mensagens próximas ao contexto da escravidão. Fica óbvio o encurtamento para o leitor identificar na personagem as possibilidades da população que ela representa. Bitola, aliás, redimensionada para além das letras. Na perspectiva do setor editorial, a ampliação do repertório com figuras negras foi lenta tanto quanto a presença de escritores negros a garantir o ponto de vista existencial na criação. Todavia, iniciativas como o projeto A Cor da Cultura (www.acordacultura.org.br) constituem intervenções sensíveis a essas demandas.

Fruto de uma parceria entre Canal Futura, MEC, Seppir, Cidan, Petrobras, TV Globo e Fundação Cultural Palmares, o projeto produz, entre outros, programas como o “Livros Animados”. No programa, a apresentadora Vanessa Walborn, rodeada por um grupo de crianças assíduas nos episódios, lê livros infantis enquanto as ilustrações da própria obra surgem animadas na tela. Os critérios na seleção dessa biblioteca, que vira, por sua vez, uma videoteca, vão desde características mais técnicas, como o tamanho e a quantidade de imagens, até a busca por repertórios que remetam de um modo afirmativo à História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

O cuidado pedagógico voltado para um público na faixa etária de 5 a 10 anos amplia a densidade humana nessa referência e a chance para essa geração ressignificar padrões identitários. É uma resposta à responsabilidade de virar as páginas da história do racismo no país.

ANA PAULA BRANDÃO é historiadora. HELOÍSA PIRES LIMA é antropóloga.

Fonte: Aarffsa

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