Morreu na madrugada deste domingo, dia 15, a escritora, artista plástica, folclorista e dançarina Raquel Trindade, uma das figuras mais importantes da cultura regional e do país. Filha do poeta Solano Trindade, fez de Embu das Artes não só local de sua residência, mas também palco de toda sua obra.
Raquel tinha 81 anos e a causa da morte não foi informada pela família. O velório acontece no Teatro Popular Solano Trindade a partir da tarde deste domingo. Amanhã seu corpo será enterrado por volta das 14 horas.
O poeta Sérgio Vaz lamentou a morte da amiga escritora. “Raquel era um ser humano maravilhoso, uma mulher que através da sua arte e sabedoria nos ensinou que a luta contra o racismo, é uma luta de todos que acreditam na dignidade humana. Foi e será sempre uma honra ser contemporâneo dela. Tem gente que morre e fica ainda mais viva. Raquel é para sempre”.
Para o jornalista Márcio Amêndola, do jornal Fato Expresso, a morte de Raquel é uma terrível e triste notícia para Embu das Artes e toda a comunidade artística, em especial os movimentos afro-brasileiros. “Raquel foi uma das maiores e melhores pessoas que conheci na vida. Fundou com seu pai, Solano Trindade, o TPB – Teatro Popular Brasileiro, no Rio de Janeiro e após a morte de seu pai, Raquel criou o Teatro Popular Solano Trindade”.
Amêndola ainda lembra que Raquel “comandou a luta e ativismo cultural de Embu por décadas, levando o nome da cidade para o mundo inteiro” e “por seu trabalho, foi professora convidada na Unicamp e Universidades do Rio de Janeiro. Recebeu, em seu nome e de seu pai Comenda de Mérito Cultural da República, entregue pelo Presidente Lula”.
Em 2004 publicou o livro “Conto, canto e encanto com a minha história… EMBU” (Editora Noovha América), obra reeditada em 2010, na qual relata toda a história das Artes de Embu e de seus personagens. Ela também publicou diversos livros sobre seu pai, Solano Trindade, com poemas de uma das mais potentes vozes negras do País.
Em entrevista ao jornal Gazeta de São Paulo, publicada no Portal O Taboanense em 2013, Raquel Trindade contou sua chegada a Embu. “Em 1955, viemos para São Paulo no grupo do meu pai aí aqui [Embu] já tinha o Sakai, o Cássio M’Boy, Asteca, Assis e a Nazaré, todos artistas”
Raquel contou que sua família chegou à cidade em 1961, auge da revolução cultural vivida pelo município. “Ficamos loucos porque era muito bonito, os rios eram limpos, tinham muitos peixes, árvores…o Pirajussara quase não tinha casas, aí papai falou: ‘Isso é um Oásis, eu não vou voltar para lugar nenhum’ e ficamos”.
Durante a entrevista ela lembrou como Embu começou a ser reconhecida como a cidade das artes. “Ficamos no barraco do Assis na [rua] Siqueira Campos, trinta pessoas dormindo no chão, parecia uma senzala e ali fazíamos festas que duravam três dias, dançávamos para a Iemanjá em volta da Lagoa, dançávamos maracatu e as pessoas iam acompanhando a gente… e durante a semana em São Paulo, íamos levar convites aos grandes hotéis e consulados, e começou a vir gente do mundo inteiro, vir outros artistas também, e aí começou tudo”.
Raquel Trindade nasceu no Recife e aos oito anos se mudou para o Rio de Janeiro. Aos 25 anos chegou em Embu das Artes, de onde nunca mais saiu. Raquel Trindade também era, como seu pai, folclorista e artista plástica, uma personalidade forte e multicultural.
Com informações dos jornais Fato Expresso e Gazeta de São Paulo