Morre John Lewis, emblemático ativista dos direitos civis nos EUA

FONTEPor AFP, na Folha de S. Paulo
John Lewis segura cópia da Constituição dos EUA durante entrevista coletiva em Washington (Foto: Mark Wilson - 2.mar.16/AFP)

John Lewis, defensor dos direitos civis que marchou com Martin Luther King e foi congressista durante décadas, morreu aos 80 anos, anunciou nesta sexta (17) a Câmara dos Representantes dos EUA.

“Hoje, os Estados Unidos choram a perda de um dos maiores heróis de sua história”, declarou a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, em nota.

A democrata descreveu Lewis, que não resistiu a um câncer no pâncreas, como “um titã do movimento dos direitos civis, cuja bondade, fé e valentia transformaram nossa nação”.

Lewis nasceu em Troy, no Alabama, em 1940. Quarto de dez irmãos de uma família de camponeses, foi um dos mais jovens integrantes do grupo Viajantes da Liberdade, que lutou contra a segregação racial no transporte público dos EUA nos anos 1960.

Também foi o líder mais jovem da manifestação de 1963, em Washington, na qual Luther King proferiu seu histórico discurso “eu tenho um sonho”.

Dois anos depois, quase morreu em um protesto pacífico e antirracista em Selma, no Alabama, no qual teve o crânio fraturado pela polícia. O episódio ficou conhecido como “Domingo Sangrento”.

Em 2015, 50 anos mais tarde, andou de mãos dadas com Barack Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, até o local em que o emblemático ato ocorreu.

Em outubro de 2018, Lewis enviou uma carta ao secretário de Estado americano, Mike Pompeo, na qual dizia ter “fortes preocupações” com o aumento da “ameaça à democracia, aos direitos humanos e ao Estado de Direito no Brasil”.

Escreveu que “a retórica da recente eleição, a violência política, os relatos de notícias falsas e a desinformação pavimentam o caminho em direção a um declínio perigoso em um país no qual muitos têm esperança e fé”.

Lewis entrou no Congresso americano em 1986 e não demorou muito para se estabelecer como uma autoridade moral. Pelosi o considerava “a consciência do Congresso”.

Após o anúncio de sua morte, foi homenageado por membros dos dois principais partidos do país. O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, disse que o ativista colocou sua vida “na linha de frente contra o racismo, promovendo direitos iguais e aproximando nosso país dos princípios que o fundaram”.

No Twitter, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse estar “entristecido de ouvir as notícias sobre a morte do herói dos direitos civis John Lewis” e enviou suas “preces para ele e para sua família”.

Obama, que em 2011 lhe concedeu a Medalha da Liberdade, a maior distinção civil dos Estados Unidos, escreveu no Twitter neste sábado (18) que “poucos de nós vivem para ver nosso próprio legado se desdobrar de uma maneira tão significativa e notável”. “John Lewis conseguiu.”

Devido ao tratamento contra o câncer, o congressista havia se retirado nos últimos meses de seus deveres legislativos. No início de junho, porém, voltou a Washington em meio aos protestos pela morte de George Floyd, homem negro asfixiado por um policial branco em Minneapolis.

“O vento está soprando, a grande mudança está chegando”, disse Lewis naqueles dias, em uma discussão no Congresso sobre racismo.

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