‘Morre na moral aí’: diz PM em vídeo após atirar em suspeito desarmado em SP que implorou para ser levado a hospital

Áudio de trecho inédito de vídeo obtido pelo g1 mostra acusado de assaltar uma casa em Bertioga (litoral paulista) pedindo para ser levado ao hospital depois de ser baleado.

FONTEG1
Geledés

Trecho inédito de um vídeo obtido pelo g1 mostra um dos quatro policiais militares de Guarujá, no litoral de São Paulo, que foram presos após a morte de um suspeito desarmado, dizendo a outro acusado para “morrer na moral aí” (no sentido de morrer “sem incomodar”) após atirar no peito dele.

No áudio, captado pela câmera do uniforme de um dos policiais, é possível ouvir o homem implorando para que fosse levado ao hospital. (Veja no vídeo acima.)

Por favor, senhor, me leva para o hospital”, diz Vitor Hugo Paixão Coutinho, de 19 anos, ao cabo da PM Diego Nascimento de Souza logo depois de ser baleado pelo policial.

Em resposta, o PM diz para ele se acalmar e acrescenta: “Morre na moral aí”. Vitor sobreviveu aos disparos.

Os quatro PMs tiveram a prisão preventiva determinada pela Justiça após o episódio, que resultou também na morte de um homem já rendido e apontado como comparsa de Vitor no assalto a uma casa em Bertioga. O caso foi abordado pelo Fantástico.

Os advogados dos policiais alegam que eles agiram em legítima defesa. (Leia mais abaixo.)

Entenda o caso

  • No dia 15 de junho deste ano, três homens invadiram uma casa em Bertioga, no litoral paulista, e roubaram um carro, dinheiro e objetos pessoais.
  • Os criminosos usaram o veículo para fugir e foram perseguidos por policiais militares em uma rodovia de Guarujá.
  • O carro foi abandonado no meio da fuga e os três tentaram escapar a pé.
  • Everton de Jesus Oliveira, o único do trio que não foi ferido, acabou preso.
  • Na sequência, Vitor Paixão foi baleado três vezes pelos policiais. De um deles ouviu: “morre na moral aí”.
  • Por fim, Kaique de Souza Passos, de 24 anos, se escondeu em uma favela. Ao ser localizado pelos policiais dentro de uma casa, ele levantou os braços, em sinal de rendição. Mesmo assim, foi assassinado com sete tiros.
  • Dez dias depois, em 25 de junho, o Ministério Público de São Paulo, que não tinha tido acesso às imagens das câmeras presas aos uniformes dos policiais, arquivou o processo por considerar que eles agiram em legítima defesa.
  • O caso teve uma reviravolta quando a Corregedoria da Polícia Militar resolveu investigar a ação e, com base nas imagens das câmeras, encontrou uma série de ilegalidades cometidas pelos agentes.
  • Segundo a Corregedoria, no momento dos disparos, os policiais obstruíram as lentes das câmeras e simularam como se tivessem sofrido uma agressão de Kaique.
  • As investigações mostraram ainda que os cabos Paulo Ricardo da Silva e Israel Morais de Souza “plantaram” (ou seja, colocaram) um simulacro (imitação) de arma de fogo ao lado do corpo de Kaique.
  • No pedido de prisão, além de Diego Nascimento, o policial Eduardo Pereira Maciel também é acusado de tentar matar Vitor Paixão.
  • Os agentes Paulo Ricardo e Israel Morais são acusados de matar Kaique.

O que dizem as defesas dos PMs

Os advogados dos quatro policiais alegam que eles agiram em legítima defesa e negam que eles tenham tentado obstruir a gravação das câmeras.

“Não podemos tirar essa legitimidade da ocorrência. A justa agressão era iminente. Eu sei que o Diego efetuou disparos. Em relação a como se deu a ocorrência, só o laudo pericial poderá apontar”, disse Filipe Molina, advogado de Diego Nascimento e também de Eduardo Maciel.

Emerson Lima Tauyl, advogado do PM Paulo Ricardo da Silva, argumentou que, em situações como essa, as coisas se desenrolam muito rapidamente.

“Tudo acontece em frações de segundos que, infelizmente ou felizmente, podem custar a vida de pessoas. O Paulo Ricardo trabalha em um pelotão de forças especiais. Policial que trabalha nesses pelotões fica muito mais suscetível a esse tipo de confronto”, afirmou.

Já Renan de Lima Claro, advogado de Israel Morais, justificou que não era possível saber de antemão que a arma dos acusados era uma imitação. “O policial não tem conhecimento prévio, em uma situação de combate, que se trata de um simulacro”, disse.


Leia também: Corregedoria acusa policiais militares de executar suspeito desarmado e já dominado em SP

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