Morte de João Pedro pode provocar mudanças no protocolo de atuação de policiais nas favelas do RJ, diz deputada

FONTEPor Raoni Alves, do G1
Wilson Witzel (PSC) participa de reunião virtual com lideranças comunitárias, membros da Anistia Internacional e a deputada estadual Mônica Francisco (PSOL) — Foto: Divulgação/Imagens retiradas do site G1

A morte de João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil do RJ no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do RJ, pode provocar uma mudança no protocolo de atuação de policiais nas favelas do estado.

Essa foi a promessa feita pelo governador Wilson Witzel (PSC), durante uma reunião virtual com lideranças comunitárias, membros da Anistia Internacional e a deputada estadual Mônica Francisco (PSOL), na última terça-feira (19).

O governo do estado confirmou o encontro e disse que irá encaminhar todas as demandas levantadas durante a reunião para os secretários de Polícia Militar, coronel Rogério Figueredo, e de Polícia Civil, Marcus Vinicius.

Segundo Jurema Werneck, da Anistia Internacional, o governador precisa assumir o controle das polícias.

“A Anistia quer entender que comportamento é esse, onde João Pedro foi morto quando foi anunciado que só havia crianças ali. Não é dever da polícia matar”, indignou-se Jurema Werneck.

O encontro virtual foi proposto justamente para falar sobre as circunstancias da morte de João Pedro. Na ocasião, Witzel lamentou a morte do adolescente e determinou uma “rigorosa investigação sobre o caso”.

Segundo familiares e testemunhas, policiais chegaram atirando à casa onde João e amigos estavam, na Praia da Luz, em Itaoca. O rapaz foi atingido na barriga e levado para um helicóptero.

Parentes passaram a noite procurando o adolescente em hospitais e só acharam o corpo 17 horas depois, no Instituto Médico-Legal do Tribobó.

A morte é investigada pela Delegacia de Homicídios, que deve ouvir policiais que participaram da operação que resultou na morte de adolescente em São Gonçalo.

Mudanças de procedimento

Segundo a deputada Mônica Francisco, a reunião durou cerca de duas horas e durante a conversa o governador prometeu reunir os secretários das polícias militar e civil para passar novas instruções para operações em comunidades.

“O João Pedro foi morto de uma forma absurda. Ele e outras crianças negras, de favela, não são vistas como crianças. Eles não têm o direito a infância. Depois da Ágatha, agora o João Pedro também foi assassinado pela polícia. Ele foi executado em casa com requintes de crueldade e perversidade”, comentou a parlamentar.

Segundo pessoas que participaram da reunião virtual, o governador aceitou que os líderes comunitários participem de reuniões quinzenais com autoridades de segurança para ajudarem a formatar um novo protocolo de atuação das polícias nas favelas do Rio de Janeiro.

“O governador se mostra, para nossa surpresa, muito disposto a mudar o direcionamento de ação das polícias”, disse Mônica Francisco.

Para a parlamentar, que é vice-presidente da Comissão de Discriminação e Preconceitos da Alerj, a estratégia atual de confronto nas favelas não consegue atingir seu principal objetivo, que seria a diminuição da violência.

“O governador faz uma meia culpa e diz que o Rio de Janeiro vai começar a mudar as suas práticas. É como se ele quisesse fazer uma limpeza moral, em relação ao que foi o início do seu mandato. Ele vê essa oportunidade, a partir da morte do João Pedro, como uma possibilidade de reconstrução de pontes com essas pessoas”, analisou a deputada.

Na opinião de Mônica Francisco, a estratégia do governador é se afastar da política belicista do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo ela, Witzel disse na reunião que o Rio de Janeiro precisa mudar suas práticas.

“Ele fez essa declaração diante da Anistia Internacional, do parlamento e agora precisa responder quais são os planos que ele tem para diminuir esse impacto de violência e melhorar as políticas públicas de assistência para essas pessoas vítimas dessa violência”, disse a deputada.

Deputada Mônica Francisco grava promessas do governador durante reunião virtual — Foto: Divulgação/Imagem retirada do site G1

Outras medidas

Além das possíveis mudanças em relação ao trabalho policial dentro das comunidades do Rio de Janeiro, o encontro da última terça também serviu para tratar dos problemas de distribuição de água nas comunidades.

Segundo os presentes ao encontro, o governador prometeu regularizar a distribuição de água nas comunidades, inclusive intensificando o abastecimento de água nas favelas com carro pipa. Outra medida para melhorar o abastecimento seria a contratação de moradores das localidades para ajudar na distribuição.

Em resposta ao G1, o governo do estado disse que desde o dia 7 de abril, a Cedae iniciou um novo programa para a instalação de caixas d’água com capacidade de armazenar até 10 mil litros em áreas de ocupação irregular e sem rede de distribuição.

“As caixas d’água são abastecidas diariamente por um dos 64 caminhões pipa que atuam na Região Metropolitana”.

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