Mulher denuncia racismo em entrada de academia em Fortaleza

Ela relata ter sido confundida com empregada de uma família de brancos que entrou na frente dela no estabelecimento. Caso foi denunciado em um boletim de ocorrência registrado no 15º Distrito Policial e teria ocorrido no dia 16 de agosto.

FONTEDo G1
Imagem: Geledés

Uma mulher denuncia ter sido vítima de racismo na entrada de uma academia no Bairro Guararapes, em Fortaleza. O caso aconteceu em 16 de agosto e foi denunciado nas redes sociais. A vítima afirma que, ao chegar na entrada da academia, uma mulher branca com dois filhos entrou e, logo em seguida, a recepcionista perguntou se ela, por ser negra e estar vestida com uma roupa branca, era babá das crianças.

A academia foi procurada pelo g1, que solicitou informações sobre o caso. No entanto, até a publicação desta matéria, a reportagem não obteve retorno.

“Eu só ia para a academia para natação, para usar a piscina […] eu não ia com roupa de malhar, eu ia com um short branco e com uma blusa branca e por baixo meu maiô. Aí passou à minha frente duas crianças com roupa de karatê e a mãe, a família branca […] No momento que foi a minha vez [de entrar], a recepcionista se achou no direito de perguntar se eu estava acompanhando a mãe dos meninos, deduzindo que eu era babá”, relatou a oceanógrafa Lívia Nunes.

Ela disse que só conseguiu entrar na academia depois que uma gerente de vendas informou para a recepcionista que ela era cliente.

“Foi a gerente de vendas que me conhecia e falou: ‘ela é cliente’. E aí foi que eu entrei. Mas depois ninguém se retratou com essa injúria racial, porque isso se chama racismo institucional […]”, contou.

Em nota, a Polícia Civil informou que segue investigando o caso como injúria racial e que foi registrado um boletim de ocorrência denunciando o fato no 15º Distrito Policial (DP) e transferido para o 4º Distrito Policial (DP), responsável pelo caso. A Polícia Civil também reforçou a importância da vítima comparecer à delegacia do 4º DP para prestar mais informações sobre o caso.

Também procurada pelo g1, a Defensoria Pública do Ceará, através da defensora Lia Felismino, disse que foi procurada pela vítima e que logo em seguida “passou a tomar todas as medidas cabíveis de acordo com os fatos narrados”.

“Na semana passada a defensoria tentou marcar uma audiência de conciliação pra tentar fazer um acordo, porque a vítima sinalizou que seria interessante para ela e a defensoria chamou as duas partes para uma audiência de conciliação para tentar um acordo de reparação de danos. Mas a empresa não foi pro acordo. Então nesses casos, quando a gente tenta uma conciliação, uma composição para reparação, esse acordo é frustrado. E aí nesses casos a defensoria segue na defesa da vítima”, explicou Felismino.

Tentativa de resolução

Mulher negra denuncia ter sofrido racismo em academia de Fortaleza (Foto: Arquivo pessoal)

Lívia também afirma ter recebido uma ligação da gerente da academia e que, posteriormente, procurou o dono do estabelecimento para relatar a situação. Contudo, o problema não foi resolvido e ela decidiu denunciar o caso à polícia.

“Quando eu entrei em contato com o dono, o dono majoritário passou para o sócio, nem disse ‘sinto muito’, disse que ia resolver, não entrou em contato comigo nem nada e entregou para o sócio. O sócio ligou para mim, fez um discurso vazio de 48 minutos que quase me convencia e quando eu fui tentar entrar num acordo pedindo um ano e meio de academia de graça e que só iria se tivesse uma campanha antirracista, porque até então eu não tinha feito B.O., ele me respondeu que tinha se sentido ameaçado por mim. A partir dali eu fui fazer o B.O. porque eu não vou aceitar frequentar um estabelecimento do qual as pessoas deduzem uma profissão devido a minha cor. Eu não sou a minha cor”, relatou.

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