Mulheres e os “mecanismos de enfrentamento á crise”

FONTEPor Raquel Fronteira, enviado ao Portal Geledés
Foto: Stock/Adobe

Mulheres são linha de frente nos contextos catastróficos sociais desde sempre e  pela herança patriarcal escravocrata,  fica reservado às mulheres o papel daquela que serve, cuida, media, limpa, educa, alimenta, que é responsabilizada e, não raras vezes, culpada por tudo que acontece à sua volta, em especial nos seus próprios lares. Neste contexto,  atentamos para a importância de observar o quão mais afetadas são as mulheres negras que vivem na pobreza ou na miserabilidade e que, com a crise instalada por conta da pandemia, estão vendo suas famílias sendo dizimadas. 

E o que nós temos com isso? Nos parece coerente um desejo de avanço social e enfrentamento à crise sem que políticas de gênero e raça sejam discutidas em prol da vida das pessoas mais vulneráveis? Mulheres em suas diversidades precisam ser vistas, ouvidas e respeitadas.

Mulheres negras lideram os rankings sobre violência doméstica e índices relacionados a feminicídio e estupro. Também são as que mais morrem e são mortas. Mulheres negras são as que mais sofrem violência obstétrica e as que têm maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde e educação,  ocupando ainda os piores postos de trabalho, com remuneração inferior aos homens, mesmo que desenvolvam atividades semelhantes.

O Atlas da Violência de 2020, publicado pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – ao apresentar os “marcadores de gênero e raça na violência”, constatou entre 2017 e 2018, uma queda de 12,3% nos homicídios de mulheres não negras e 7,2% entre as mulheres negras. No período entre 2008 e 2018 essa diferença fica ainda mais evidente: enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras caiu 11,7%, a taxa entre mulheres negras aumentou 12,4%. 

O Tribunal de Justiça Catarinense apresenta dados  no que tange à violência contra mulher sobre feminicídios consumados e tentados. No período de Janeiro a Maio de 2020, foram registrados 81 feminicídios, ocorrendo 1  em Itapema. Em relação à dados estatísticos sobre violência doméstica – Pandemia Covid19- Maio/2020, Itapema teve registrados 21 casos de processos/inquéritos envolvendo violência doméstica e familiar contra mulheres, sendo que 8 deles tiveram pedidos de medida protetiva requeridos e deferidos.   

Face a isso, em março/2020, a Organização das Nações Unidas – ONU Mulheres Brasil – lançou relatório com 14 recomendações para Mulheres das Américas e Caribe serem incluídas na resposta à pandemia do Covid19.

O Projeto Levante reconhece e respeita as mulheres em suas diversidades e se pauta por essas recomendações, desenvolvendo suas ações e atividades pela defesa de direitos e por novas perspectivas e políticas públicas de defesa da dignidade e da vida de todas as mulheres. Oferece apoio no enfrentamento à crise e busca desenvolver mecanismos positivos de combate à insegurança alimentar, pela manutenção do trabalho, acesso à saúde, a direitos, e no enfrentamento das violências.

Vem aí mais um “Novembro Negro”, o Projeto Levante está no Sul do País e aqui existem pessoas negras sim! Bem como existe toda problemática e necessidade de auxílio e assistência para População Preta, para mulheres negras, especialmente para aquelas que se encontram em situação de pobreza ou de extrema pobreza.  

Dia 20 de novembro para nós significa mais um dia de lutas! Dia de reivindicar pela vida da juventude que vem sendo exterminada pela truculência das polícias, dia de reivindicar pela vida das mulheres negras, pela vida dos nossos homens que são humilhados e mortos pela política genocida que nos assola, o caso “João Alberto” (carrefour POA/RS) não foi e não será por nós esquecido. Seguimos nos organizando, seguimos em luta, seguiremos trabalhando e dando as mãos umas às outras!

Como resposta à pandemia do Covid19 – nos articulamos para atender demandas trazidas por mulheres negras e não negras periféricas da região de Porto Alegre/RS e também do litoral norte de Santa Catarina. 

Para emergências ligue 190 – Para denúncia ligue 180 – Se a vítima for criança ou adolescente disque 100. 

Foto: Divulgação/ Projeto Levante

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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