Mulheres negras

Reprodução/Instagram

 

Ainda é gesto tímido escalar atrizes negras como protagonistas, mas já é um avanço

por: Bia Abramo –

Fonte: Folha de São Paulo –

DAS TRÊS novelas da Rede Globo em exibição, duas têm protagonistas negras. De qualquer lado que se escolha, não deixa de ser notável. Salvo engano, é mais um daqueles momentos “nunca antes na história deste país”.
É claro que as carreiras de ambas as atrizes, Taís Araújo e Camila Pitanga, têm função fundamental para que elas sejam escaladas nos papéis principais na televisão.
Taís já foi a estrela de “Da Cor do Pecado”, novela exibida em 2004 que tinha como um dos temas a relação interracial (e a oposição ferrenha do pai do moço branco e rico por quem a personagem de Taís se apaixonava). A última aparição de Camila na TV foi como a fulgurante Bebel, personagem que roubou as atenções em “Paraíso Tropical”.

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Também não se pode descartar o efeito coincidência. Com tudo isso, a representação de heroínas não brancas numa vitrine tão grande como a das novelas da Globo parece sugerir uma outra coisa: a constatação de que a televisão, hoje, como fala para uma gente cada vez mais diversa, em todos os sentidos, tem de se abrir para essa diversidade. Dados da última Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados mês passado, apontam que os televisores estão presentes em nada menos que 95% dos domicílios brasileiros.
Ok, ainda é um gesto relativamente tímido escalar atrizes negras como protagonistas. E, evidentemente, não é suficiente para demonstrar a velha tese da democracia racial tampouco é uma prova da não existência de racismo no país, embora talvez haja uma intenção de se dirigir a esses temas que andam rondando a mídia.
Mas ter de responder na teledramaturgia às evidências demográficas, mesmo que a resposta possa ter sido estimulada por um cálculo puramente marqueteiro, não deixa de ser uma espécie de avanço. De certa forma, foi isso que fez Janete Clair em “Pecado Capital”, mais de 30 anos atrás, quando criou um protagonista mais popular, o taxista Carlão. E isso foi um dos passos decisivos para mudar a história da telenovela na década de 1970.
Os tempos são, evidentemente, outros e os desafios teledramatúrgicos não serão assim tão simples de resolver. Entretanto, prestar uma atenção inteligente e sensível à diversidade pode ser uma maneira de dar algumas dentro.

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