Mulheres realizam protesto contra ofensas racistas à militante de Colatina

Manifestação será em solidariedade a Carol Inácio e todas as mulheres vítimas do racismo e do machismo

FONTEPor Elaine Dal Gobbo , do Século Diário
Carol Inácio (Foto: @brunobarretofotografia / Reprodução Instagram @afrocarol)

O Movimento de Mulheres Negras de Colatina e Região Zacimba Gaba realiza, na próxima segunda-feira (16), uma manifestação contra o racismo sofrido por uma de suas integrantes, a influenciadora digital Carol Inácio. O protesto será a partir das 17h30, em frente à Câmara Municipal, no noroeste do Estado, onde haverá um carro de som e microfone aberto para quem quiser externar sua indignação com o ocorrido, que ganhou repercussão nacional. Carol Inácio, que também integra o movimento, registrou um Boletim de Ocorrência (BO) nessa segunda-feira (9), após ter sofrido pela segunda vez ataques racistas nas redes sociais. Ela é afroencer, termo que, como explica, é uma mistura de afro com influencer, e tem um perfil no Instagram, o @afrocarol, em que aborda temas como feminismo negro e empoderamento feminino, o que acredita ter motivado as agressões.

O ato de racismo ocorreu no último domingo (8), quando Carol foi inserida em um grupo de WhatsApp chamado Realities Red Pill Opressor, com cerca de 130 pessoas. Entre as mensagens enviadas para o grupo, ofensas como “negra porca” e “negro fede”, além de menções ao nazismo e a Hitler.

De acordo com a integrante do Movimento de Mulheres Negras de Colatina e Região Zacimba Gaba e presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Colatina e Governador Lindemberg (SISPMC), Eliane Fatima Inacio, a Câmara foi escolhida para a realização do protesto porque, quando o caso de racismo aconteceu, ela conversou com o presidente da Casa de Leis, Jolimar Barbosa da Sila (PL), para solicitar espaço na Tribuna Livre, mas não obteve retorno da demanda.

Eliane afirma que a manifestação será no horário da sessão, que começa às 18h. Um dos objetivos, afirma, é utilizar a Tribuna Livre já na segunda, mas se não conseguirem, “a Tribuna Livre será feita na rua mesmo, durante a manifestação”. “Isso deixou de ser somente da Carol Inácio e passou a ser também de outras mulheres”, aponta, destacando que as mulheres convivem frequentemente com a gordofobia, o racismo e outras formas de opressão.

Em Colatina, de acordo com Eliane, “existe um machismo impregnado”, praticado pelo que ela chama de “coronéis sem função”, pessoas que fazem parte das famílias tradicionais do município, que se comportam “como os coronéis da época da escravidão”. “Essas pessoas olham para um negro e pensam: poderia ser uma peça minha”, denuncia.

A presidente do sindicato acrescenta que os “coronéis sem função” também questionam a existência do machismo, do racismo e de outras formas de opressão, cada vez que as pessoas que sofrem esse tipo de discriminação se manifestam contrariamente.

Primeira agressão

Esta não foi a primeira agressão sofrida por Carol Inácio. Ela recorda que em 22 de julho, após postar um vídeo de sua mãe e sua tia se vacinando contra a Covid-19 e gritando “Viva o SUS!” e “Fora, Bolsonaro!”, ela foi inserida em um grupo de WhatsApp chamado “Abaixo o Negrismo”, com cerca de 30 pessoas, no qual a postagem dela foi publicada.

Carol relata que saiu do grupo e depois recebeu uma mensagem de uma pessoa que estava nele, perguntando “e aê?”, mas a bloqueou. Posteriormente, outra pessoa que estava no grupo enviou prints das mensagens enviadas para a militante, após Carol ter bloqueado. De acordo com a afroencer, nos prints sua tia e sua mãe eram chamadas de “imundas” e “dois lixos”. Além disso, foi dito que ela “paga de militante e saiu do grupo porque não quer debate”.

Leia também:

Militante feminista do movimento negro é inserida em grupo de neonazistas e vira alvo de ataques racistas

Mulheres negras enfrentam barreira maior no mercado de tecnologia

De alvo de racismo a “manual do rap brasileiro”: livro celebra “Sobrevivendo no Inferno”

-+=
Sair da versão mobile