O Museu Judaico de São Paulo, o Instituto Brasil Israel e a Casa Sueli Carneiro realizam o debate Memória e Testemunho e o lançamento do livro “Nada os trará de volta” (Cia. das Letras), do autor e militante do movimento negro Edson Cardoso, no dia 11 junho, sábado, às 16h.
No debate, Edson Cardoso e o professor e crítico literário Márcio Seligmann-Silva irão refletir sobre o papel da memória e do testemunho para a afirmação das narrativas dos oprimidos, obliteradas pela história escrita do ponto de vista dominante e hegemônico.
“Nada os trará de volta” reúne 151 textos publicados por Cardoso ao longo de quase quarenta anos. Inspirado em Hannah Arendt, o autor lembra que são escassas as possibilidades de que a verdade factual sobreviva ao assédio do poder. Como narrativa dos vitoriosos, a história tende ao apagamento dos fatos — daí a importância do testemunho.
O debate é o primeiro da série “Judeidade e Negritude”, iniciativa do Museu Judaico de São Paulo, do Instituto Brasil-Israel e da Casa Sueli Carneiro, com colaboração dos editores Ricardo Teperman e Fernando Baldraia, que irá promover conversas acerca das aproximações e tensões relacionadas à judeidade e à negritude, passando pela pesquisa de alianças e clivagens históricas entre os dois grupos, intersecções entre as duas identidades e reflexões de interesse comum nos campos da arte, da cultura, da antropologia, da psicanálise, entre outros.
Sobre o Livro Nada os trará de volta
Edson Cardoso
Em junho de 1987, os muros da Universidade de Brasília amanheceram pichados com inscrições como “Morte aos negros!”. A administração da UnB descartou abrir investigação sobre o caso, e os criminosos não foram identificados. Talvez a história não guardasse nenhum registro desse ataque supremacista em plena redemocratização se Edson Cardoso não o tivesse imediatamente denunciado no artigo “Furor genocida”, escolhido para abrir a presente coletânea de escritos. Inspirado em Hannah Arendt, o autor lembra que são escassas as possibilidades de que a verdade factual sobreviva ao assédio do poder. Como narrativa dos vitoriosos, a história tende ao apagamento dos fatos — daí a importância do testemunho.
Ex-chefe de gabinete do deputado Florestan Fernandes e um dos principais organizadores da célebre Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida, que reuniu mais de 30 mil pessoas em Brasília, em 1995, Cardoso tem larga experiência na vida política e no ativismo. Como ele mesmo afirma, seu projeto intelectual se confunde com a militância, opção incomum num país de célebre cultura bacharelesca. O que evidencia o ineditismo e a potência dos textos que compõem as três primeiras partes do livro — “Movimento Negro”, “Denúncia do genocídio negro” e “Incidência política”. Se por vezes a violência racial escancara os dentes, em tantas outras ela se oculta da maneira mais pérfida. Leitor arguto e dono de formidável bagagem literária, Cardoso manteve constante debate com os principais veículos de comunicação do país. Seu diagnóstico é implacável, como demonstra na quarta seção, “O jornalismo em revista”.
Na última, intitulada “Imaginário”, o autor interpela figuras como Machado de Assis, Caetano Veloso e João Ubaldo Ribeiro, em análises tão sofisticadas quanto surpreendentes — como a que recupera depoimento de Manuel Faustino, um dos líderes da Conjuração Baiana, em 1798. Faustino defendia que o Brasil tivesse um governo do qual as pessoas participassem por seus méritos e não pela cor da pele. Foi enforcado e esquartejado, mas quem ainda se lembra disso?
Sobre Edson Cardoso
Edson Cardoso nasceu em Salvador, em 1949. Bacharel em Letras (UFBA), mestre em Comunicação (UnB) e doutor em Educação (USP), é coordenador do Ìrohìn — Centro de Documentação e Memória Afro-Brasileira. Foi editor dos jornais Raça & Classe e Jornal do MNU (Movimento Negro Unificado), e publicou Bruxas, espíritos e outros bichos (1992) e Negro, não (2015), entre outros livros.
Sobre Márcio Seligmann-Silva
Doutor pela Universidade Livre de Berlim, pós-doutor por Yale e professor titular de Teoria Literária na UNICAMP. Foi professor visitante em Universidades na Argentina, Alemanha, Inglaterra e México. Autor, entre outros, de O Local da Diferença (segunda edição 2018, vencedor do Prêmio Jabuti em 2006).
O Museu Judaico de São Paulo (MUJ) cultiva e mantém viva as diversas expressões da cultura judaica, em diálogo com o contexto brasileiro e com os debates contemporâneos. O Museu foi inaugurado em dezembro de 2021, fruto de uma ampla mobilização da sociedade civil. O programa do MUJ inclui exposições permanentes e temporárias, ações educativas, apresentações musicais, debates e atividades literárias, além de uma biblioteca com mais de mil livros para consulta pública.
O Instituto Brasil-Israel produz e dissemina conhecimento sobre Israel em diálogo com a sociedade brasileira e combate o antissemitismo. O instituto incorpora uma rede ampla de colaboradores, segue uma linguagem plural e convida ao debate também vozes discordantes.
A Casa Sueli Carneiro tem como propósito constituir articulação do pensamento ativista-intelectual de Sueli Carneiro em expressões e linguagens negras de continuidade de memória e resistência. E propõe fazer isso incorporando e reforçando continuamente autonomia, independência, liberdade, inovação, memória, precisão, olhar crítico, auto-referência, interdependência, intergeracionalidade, ativismo, indignação e acolhida.
Patrocínio
Para os projetos de 2022, o MUJ conta com doação do Instituto Cultural Vale, Instituto CCR, Família Minev, Sotreq, Fundação Arymax, Dexco e Alfa Seguros.
Em 2022, os projetos da Casa Sueli Carneiro têm sido apoiados pela CLUA, Fundações Rosa Luxemburgo, Tide Setúbal e Open Society, institutos Ibirapitanga e Itaú Social.
Serviço
Museu Judaico de São Paulo (MUJ)
Local: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP
Ingressos: Gratuito. Distribuídos 1 hora antes do evento.
Classificação indicativa: Livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida