Música homofóbica coloca pagodeiros em “batalha” na Bahia

Os cantores de pagofunk Mr Galiza e Robyssão

Às vésperas da folia, quando são lançados os hits que vão estourar no Carnaval, os soteropolitanos assistem ao desenrolar de uma trama polêmica envolvendo o pagodeiro Robyssão e o Grupo Gay da Bahia (GGB).

por Marcelo Barreto no UOL

O imbróglio é por conta da música “Quem Banca é o Viado”, em que a letra insinua que um rapaz da periferia que recebe presentes de outro homem em troca de favores sexuais.

O tom irônico gerou repúdio da militância, que elaborou uma notícia-crime no Ministério Público (MP-BA) contra o cantor, pedindo que o órgão instaure procedimentos para apurar a composição. “Consideramos que a música incita o preconceito contra um segmento em especial e a outros grupos sociais por analogia. Incita um patrulhamento aos LGBT, associado a certa criminalidade nos relacionamentos, desqualificando e desconsiderando a possibilidade do afeto entre as pessoas”, diz a denúncia.

Além de acionar judicialmente o artista, a entidade lançou um desafio inédito: ofereceu R$ 1.000 para quem compusesse uma resposta à altura da provocação. A canção vencedora foi “Mais Amor Por Favor”, da professora Salete Maria. Em tom de protesto, a melodia fala de respeito e diversidade, e ganhou arranjos e voz do baiano Mr. Galiza, considerado concorrente de Robyssão no segmento do “pagofunk”.

Para Marcelo Cerqueira, presidente do GGB, embora trate-se de uma crônica de costumes comum nas periferias, este tipo de ofensa é inaceitável. “A música de Robyssão é horrível na essência e estimula o pior contra nossa população. Nossa campanha elegeu um um hino ao amor, uma possibilidade de fazer entretenimento sem trazer a intolerância tatuada.”, critica.

A Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA) também divulgou nota de repúdio e classificou a canção de “grotesca”. “Observa-se que a letra traz um conteúdo altamente preconceituoso e homofóbico. Compactuar com manifestações como esta seria o mesmo que corroborar com o estigma de que inexiste afetividade nas relações entre pessoas do mesmo sexo e com a estigmatização do jovem morador da periferia como um gigolô”, diz o texto.

Procurado pela reportagem, o cantor Robyssão não foi encontrado para falar sobre o caso.

Queixas de homofobia crescem no Carnaval

O Brasil continua sendo considerado campeão mundial de crimes motivados pela homolesbotransfobia (o ódio a gays, lésbicas e transgêneros). Dados do Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais no Brasil, elaborado pelo GGB, mostram que somente no ano passado foram registradas 326 mortes de gays, travestis e lésbicas, sendo um assassinato a cada 27 horas.

Os números revelam ainda que, apesar da queda nas taxas, a Bahia ainda é um dos Estados com maior incidência desses crimes. Levantamento realizado durante o Carnaval de 2014 pelo Observatório da Discriminação Racial e LGBT, órgão ligado a Secretaria Municipal da Reparação (Semur), indicou que os casos de discriminação contra os LGBTs registraram o maior número de ocorrências: 40% do total de denúncias, entre queixas contra agressão verbal e gestual (50%), psicológica e/ou moral (33%) e violência física (17%).

Criado há dez anos, somente no ano passado o núcleo passou a incluir ações de apoio aos LGBTs no Carnaval. A representante do Observatório Zu Mota orienta que quem se sentir ameaçado pode procurar os postos avançados distribuídos pelos três circuitos, ligar para o disque-denúncia pelo 156 ou ainda pelo site do Observatório.

-+=
Sair da versão mobile