‘Não é conseguir dinheiro, é o direito de estar no meu país e ser negra’, diz vítima de racismo em loja, sobre a busca por justiça

Segundo Laura Brito, a chinesa Li Chen ‘realmente ela conseguiu o que ela queria, que era ofender e magoar’. ‘Mas eu vou continuar lutando’, emendou. Li foi detida, mas liberada após pagar fiança.

FONTEPor Anna Beatriz Lourenço, no G1
Laura Brito (Foto: Reprodução/TV Globo)

A atendente Laura Brito, que denunciou ter sofrido racismo por uma dona de uma loja de bijuterias em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, afirmou ao Bom Dia Rio que vai continuar lutando por justiça, apesar de toda a mágoa, e não por dinheiro, mas pelo “direito de estar no meu país e ser negra”. A chinesa Li Chen foi detida em flagrante, mas foi liberada após pagar fiança de R$ 1,5 mil.

“Ela realmente conseguiu o que ela queria, que era me ofender e me magoar, mas eu vou continuar lutando porque eu quero justiça”, afirmou.

O depoimento de Laura

Eu me senti horrível. Eu me senti a pior pessoa do mundo. Ela me agrediu sem eu fazer nada. Eu estava com o dinheiro, não ia matar, não ia roubar, não ia fazer nada contra ninguém ali.

E ter que catar minhas coisas pelo chão, ser tratado igual a bicho?

Eu entregava panfletos na rua e já aconteceu de a pessoa falar: “Não encosta em mim! Eu não quero isso!” Para mim já um preconceito. Por que eu não posso encostar?

Uma senhora aqui em Copacabana mesmo, eu disse para ela: “Senhora, o seu cadarço está desamarrado!”, e eu ia amarrar para ela. Ela foi quase atropelada. Ela se jogou na frente de um carro para eu não encostar nela.

Então são essas coisinhas que a gente vai acumulando. Mas a agressão física é passar dos limites totalmente.

Quando eu estava subindo para casa, teve gente que gritou: “Você não vai conseguir nada não, Neguinha!”.

Eu quero falar para as pessoas que não é conseguir dinheiro, não conseguir bens materiais. É conseguir o direito de estar no meu país e ser negra, ser trabalhadora como todo mundo é.

A gente não tem que ver cor, raça. A gente tem que ver o ser humano em caráter.

Ela não conseguiu me comprar, ninguém vai conseguir me comprar porque eu tenho dignidade e orgulho de ser preta. Eu tenho orgulho de ser nascida negra e eu vou continuar tendo.

Laura Brito, vítima de racismo (Foto: Reprodução/TV Globo)

Relembre o episódio

caso aconteceu nesta quarta-feira (21). Laura, que tem 28 anos, contou que entrou no estabelecimento para comprar um anel para o marido. Li Chen, de 48 anos, parou na sua frente.

Laura disse, então, que desviou, mas a mulher continuou a segui-la pelos corredores. Quando foi questioná-la do motivo, a dona da loja respondeu que ela deveria se retirar.

“Eu não quero você e esse tipo de gente na minha loja, ‘neguinha’, eu não quero uma ‘neguinha’ igual a você na minha loja. Sai”, relatou a vítima sobre as ofensas ouvidas.

Laura disse ainda que rebateu a mulher: “Eu estou comprando, eu tenho dinheiro para consumir, não vou te roubar, não vou fazer nada.”

Mesmo assim, segundo ela, a comerciante foi agressiva e insistiu em expulsá-la. Foi aí que teriam começado, inclusive, agressões.

“Me deu dois tapas no braço, pegou a cestinha que estava na minha mão com o meu celular e outras bijuterias, tirou a cestinha de mim, tacou o meu celular no chão. Eu fui saindo da loja pedindo socorro, catando as minhas coisas no chão, e ela me ofendendo.”

Clientes e pessoas que passavam pelo estabelecimento viram a vítima chorando e foram cobrar explicações da dona da loja.

A polícia foi acionada e os agentes do 19º BPM (Copacabana) levaram Li Chen para a 12ª DP de Copacabana. Na saída, testemunhas hostilizaram a dona da loja, gritando “racista”.

O caso foi registrado como injúria racial.

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