‘Não sabia como agir’, diz homem que recebeu comanda com palavra ‘preto’

FONTEUOL
Servidor público procurou a polícia um dia após passar pela situação em uma churrascaria da Asa Sul Imagem: Arquivo Pessoal

O funcionário público Gilberto Martins, 43, que estava participando de um evento na churrascaria Fogo de Chão em Brasília, disse que não sabia como agir quando recebeu uma comanda escrito a palavra “preto”.

Ele conta que, ao questionar o garçom, recebeu a explicação de que a designação poderia ser pela cor da camisa dele, que, segundo Gilberto, era cinza. O caso ocorreu na quinta-feira (6) e a Polícia Civil está investigando.

“Eu nunca tinha passado por uma situação dessa. Não sabia como agir diante disso. Quando perguntei o que aquilo significava, ele ficou nervoso. Como eu estava em um grupo de amigos, não queria perguntar demais e criar tumulto para não estragar a nossa noite.”

Gilberto afirma que, quando um dos amigos viu o que estava escrito na comanda, também estranhou. “Assim que eu mostrei para dois amigos que estavam ao meu lado, eles acharam estranhos, ficaram transtornados. Um deles me disse: ‘Não acredito. Será que é isso mesmo que estou lendo?’. Foi só quando voltei para casa, que a ficha caiu — e eu fiquei muito incomodado.”

Gilberto compartilhou a imagem da comanda com outros amigos em um grupo de WhatsApp e foi por lá que recebeu a orientação de ir a uma delegacia especializada. “Ninguém mais tinha nada registrado na comanda. Só a minha tinha isso. Quando me indicaram ir à delegacia, eu fui para entender o que eu poderia fazer, tirar dúvidas. Então, a escrivã me disse que eu poderia registrar uma ocorrência porque de fato havia indício de um crime.”

Segundo o funcionário público, após a repercussão do caso, um gerente do restaurante procurou por ele, tentando eximir o estabelecimento de culpa, informando que era impossível ser um funcionário porque eles não usam caneta de tinta azul no estabelecimento.

Ele teve comportamento absurdo de não só acobertar, como ainda tentar dizer que poderia ter sido eu. Na hora, pedi para que não deletassem nenhuma imagem das câmeras. Gilberto Martins.

Mais tarde, um representante nacional da franquia entrou em contato com ele e afirmou que um funcionário que teria feito o ato racista e outro, que o acobertou, foram identificados e seriam punidos.

Em nota, a churrascaria pediu desculpas ao cliente e disse que não compactua “com nenhuma forma de discriminação ou sequer a percepção da mesma”. “Sendo assim, afirmamos que medidas internas cabíveis ao caso já foram providenciadas, tal como o reforço do nosso programa de treinamento a todos colaboradores da rede.”

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