NEABI – na esteira da resistência e da consolidação de espaços

Foto: Maria Vanusa

Em luta há dois anos o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas – NEABI – IFCEcampusCrateús, com a missão de produzir e difundir conhecimentos, fazeres e saberes vêm contribuindo para a promoção da equidade racial e dos Direitos Humanos, da superação do racismo e outras formas de discriminações, na perspectiva da ampliação e consolidação da cidadania e dos direitos das populações negras e indígenas no Brasil, no Ceará e, em particular, neste campus. Nesta sua curta trajetória desenvolveu/desenvolve uma série de ações, projetos e programas, tais como: conferências, encontros, estudos, debates, reuniões, mesa redonda, seminários, conferências, participação em eventos, pesquisa, ensino e extensão.

por ANTONIA KARLA BEZERRA GOMES enviado para o Portal Geledés

Foto: Maria Vanusa

É nesta perspectiva de ser reduto de reflexão, sistematização e ação que compreendo o NEABI como um neoquilombo. Se no passado os quilombos eram formados por negros escravizados em busca de liberdade e cidadania, hoje nos organizamos em busca da consolidação de liberdade e cidadania, de desvelar a falácia da igualdade racial, o racismo pernicioso, o genocídio dos jovens negros, a violação dos corpos e do trabalho das mulheres negras, o sofrimento e a solidão das crianças negras… Mas também de apresentar os nomes, os rostos e os empreendimentos daqueles homens e daquelas mulheres que doaram/doam seus dias, suas forças e suas vidas pelo fim da miserável escravidão a qual foi forçado o povo negro no Brasil, sequestrado no continente africano. Escravidão que se perpetua até os dias de hoje com novas faces e estruturas. Em pesquisar as contribuições culturais e tecnológicas para a formação do Brasil, assim reconhecendo e apresentado a importância desta gente, que foi, pela lógica eurocêntrica, destituída de espírito, cultura e história. Muito têm sido feito neste e a partir deste espaço de resistência.

Mas ainda há tanto pelo que lutar – ovingador é lento e muito bem intencionado– quero dizer com isso, que nossa batalha diária não cessará enquanto estudantes negros forem convencidos pela violência psicológica, física e simbólica que o IFCE campusCrateús não é lugar pra ele, enquanto estudantes negros não reconhecerem a luta de nossos ancestrais como suas, enquanto jovens negros se deixarem cooptar pelo discurso fácil da meritocracia, enquanto jovens negros acreditarem que cota é esmolae não reparação, enquanto as pessoas não negras insistirem na igualdade racial em terras brasileiras, na naturalização da violência contra os corpos negros, contra a religião, a cultura, a história dos povos afro-brasileiros. Enquanto a Lei 10.639 não se materializar em livros, em disciplina, em conhecimento cada vez mais solicitado pelas avaliações externas. Enquanto não existir, neste país, igualdade e respeito para todos os povos, incluindo meu povo preto dos quilombos, das favelas, dos cafundós do sertão e da cidade, vamos ter pelo que lutar.

Foto: Anderson Silva

E é neste sentido de luta, emaranhada de afetos, saberes, resistência e arte que o NEABI campusCrateús está desenvolvendo dois projetos de pesquisa, sob orientação da professora Valéria Lourenço: PIBIC Ensino Superior “Narrativas orais e memória coletiva como patrimônio imaterial: cartografia das trajetórias de vida dos (as) “intelectuais locais” de Crateús/CE e PIBIC Ensino Médio “Mapeando a implementação do ensino de história e cultura, africana, afro-brasileira e indígena nas instituições de ensino públicas do sertão cearense”.

Vem realizando formação, destaque para os minicursos realizados durante a II Jornada da Física o minicurso RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO: POR UM ENSINO DE DIVERSAS CORES, co-ministrado pelo estudante Anderson Beserra – licenciando em Letras,objetivando discutir a importância de uma educação voltada para a diversidade étnico-racial. O minicurso tratou dos conceitos essenciais para a discussão em sala, tais como “raça”, “racismo” e “etnia/étnico”, os principais desafios que permeiam um processo de ensino e aprendizagem mais inclusivo, e quais estratégias didático-metodológicas podem ser mobilizadas na tentativa da sua efetivação. O outro minicurso foi A transversalidade no Ensino: Tour do enfrentamento a LGBTQI fobia e Machismo, co-ministrado por  Leonardo de Paiva e Mayara Barros – licenciandos em Física, os temas abordados giraram em torno dos conceitos de Orientação Sexual, Identidade de Gênero, Expressão de Gênero e Feminismo, bem como a legislação educacional que garante a discussão destes temas em sala de aula, por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, os temas abordados foram contextualizados com questões relativas a raça e classe.

Foto: Leonardo Paiva

Ainda na esteira da resistência e da consolidação de espaços o NEABI lançou o projeto – Cineclube Terça Diversa– objetivando proporcionar a discussão das temáticas raça, gênero e classe no IFCE campus Crateús a partir de ações cineclubistas para estudantes do campus e da comunidade em geral.O projeto terá duração de um ano, as seções serão mensais, sempre as terças, o horário e a programação estarão sempre disponíveis nas redes sociais. Coordena este projeto a professora Karla Gomes e as bolsistas Tati e Vanuza – Licenciatura em Geografia, Delmira – Médio Técnico em Química e o bolsista Leonardo – Licenciatura em Física, todos participantes do NEABI campusCrateús.

A primeira sessão ocorreu neste dia 20 de Novembro, às 14:00h, no auditório do  campusCrateús, para os estudantes do curso Química integrado ao Ensino Médio, os mebros do NEABI e acomunidade externa. O filme será O Xadrez das Cores, de Marco Schiavon. O debate após a sessão foi conduzido pelo professor Jorge Félix.

As reuniões do NEABI são quinzenais, sempre as terças, às 15:30h. Participe!

Neste 20 de novembro e todos os dias antes e depois dele que façamos uma séria reflexão sobre a luta dos negros e a esperança de construirmos uma sociedade na qual a alegria e o respeito não deixem espaço para nenhum tipo de discriminação (Vicentinho).

 


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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