De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a população negra apresenta os piores indicadores de saúde se comparadas aos brancos. Infecções sexualmente transmissíveis, mortalidade de recém-nascidos antes dos seis dias de vida, hanseníase, mortes maternas e tuberculose são alguns problemas de saúde evitáveis mais frequentes nessa parcela da sociedade.
Por Gabriela Albach, do A Tarde
Isso acontece porque a população negra vive com menos qualidade, conforme explica Lúcia Xavier, coordenadora da organização de mulheres negras Criola.
“O grupo é mais vulnerável a doenças porque está sob maior influência dos determinantes sociais de saúde, ou seja, as condições em que uma pessoa vive e trabalha, a insalubridade, as baixas condições sanitárias às quais está submetida, por exemplo. A soma desses indicadores de vulnerabilidade aumenta o risco de perder a vida”, comenta.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014, os negros (pretos e pardos) eram a maioria da população no país, representando 53,6% dos brasileiros. Atualmente, 80% da população cujo plano de saúde é exclusivamente o Sistema Único de Saúde (SUS) é negra. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (2015), das pessoas que já se sentiram discriminadas por médicos ou outros profissionais de saúde, 13,6% destacam o viés racial da discriminação.
“Estudos mostram que o racismo não é uma questão vinculada especificamente ao SUS. Na rede privada, o racismo também está presente. A diferença nas taxas de mortalidade hospitalar é uma evidência”, salienta.
Segundo o Ministério da Saúde, os óbitos por Aids em 2016 afetam mais negros (58,7%) que brancos (40,9%). Das mulheres gestantes diagnosticadas com sífilis, 59,8% eram negras e 30,6% brancas. No mesmo ano, 38,5% das notificações de sífilis adquirida ocorreram entre pessoas brancas e 42,4% em negras.
A hanseníase, doença infecciosa causada por bactéria cuja transmissão está relacionada a condições precárias de moradia e higiene, em 2014, teve 31.064 casos notificados, mais de dois terços na população negra. Nos registros de tuberculose, no mesmo ano, 57,5% das pessoas que apresentaram a doença eram negras.
Fernanda Lopes, representante auxiliar do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, destaca que doenças não são obras do acaso. “A condição de saúde é determinada por fatores econômicos, políticos, sociais, culturais e ambientais. Para se alcançar o estado de bem-estar, é preciso investimentos diversos dentro e fora do serviço de saúde. Se o racismo não for reconhecido e enfrentado, a juventude negra estará sempre vivenciando maior risco de adoecimento e morte”, conclui.
Em setembro do ano passado, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) recomendou, na Conferência Sanitária das Américas, que os países-membros promovam políticas públicas capazes de abordar o fator étnico como determinante social da saúde.