As pessoas de cor também estiveram na mira de Hitler, mas poucos historiadores cuidam do tema, apresentado agora pela primeira vez numa exposição no Centro de Documentação do Nazismo, em Colônia.
No DW
Início dos anos 30 na Alemanha. Os rádios transistorizados tocam jazz. Josephine Baker dança suas criações, que se tornariam lendárias. Nos salões de baile na capital alemã, as pessoas dançam entusiasmadas o ritmo da moda. Música negra é chique, moderna, na República de Weimar. Composta por Ernst Krenek, a ópera Jonny spielt auf, sobre um músico negro de jazz, torna-se um sucesso em 1927.
Mas a vida de quem tem pele de cor na Alemanha passa a ser cada vez mais perseguida pela sombra do nazismo e suas idéias desvairadas sobre o “puro” povo alemão. Ao lado dos judeus e dos políticos oposicionistas, os negros eram um cisco no olho ariano de Hitler e seus homens. E assim o destino de todos eles foi sacramentado pela Lei das Raças, de 1933.
Esta parte da história alemã está apresentada agora na primeira exposição do mundo sobre o tema. “Identificação especial: preto – Negros no Estado Nazista” (Besonderes Kennzeichen: Neger – Schwarze im NS-Staat) reúne pôsteres, panfletos, filmes, áudios e fotos e está à disposição do público num local mais do que autêntico: o Centro de Documentação do Nazismo em Colônia. O velho prédio pertenceu à Gestapo, a polícia secreta de Hitler, que ali interrogava e torturava suas vítimas.
Passado desprezado – Até hoje a história do negros que viviam na Alemanha antes da subida ao poder dos nazistas permanece desconhecida do grande público. Naquela época, não era apenas através da cultura que os negros se sobressaíam, mas também com sua presença nas ruas: imigrantes do Caribe, africanos, norte-americanos negros que haviam fugido da crise econômica nos EUA para a Alemanha, diplomatas, imigrantes das colônias e marinheiros. Idealizador da exposição, Peter Martin, da Fundação de Incentivo à Cultura e Ciência, de Hamburgo, estima em 10 mil o número de pessoas de cor residentes na Alemanha naquela época.
Eram negras e negros que haviam construído suas vidas na Alemanha, se casado com alemães e alemãs e com eles gerado filhos – os chamados Rheinlandbastarde (bastardos da Renânia). Muitos deles foram mais tarde esterilizados à força pelos nazistas. A máquina de propaganda nazista atacava as pessoas de cor. Eram rotuladas como uma perigosa peste. E assim elas sumiram da vida pública. O que restou foi uma montanha de papéis da burocracia. As pessoas simplesmente desapareceram, segundo Martin, que há anos dedica-se à história da minoria negra na Europa.
Destino ignorado – O denuncismo, sobretudo através da imprensa, estava na ordem do dia. Cartazes apresentavam os negros como um perigo para as mulheres alemães. O que aconteceu com a maioria deles, de 1933 a 1945, é difícil de saber. Muitos conseguiram deixar o país a tempo. Outros foram enviados para os campos de concentração. Não poucos serviram de cobaias para pesquisas dos nazistas.
Talvez tenham sido centenas, possivelmente milhares os que morreram. Em apenas 15 a 20 casos os historiadores encontraram provas de assassinato por nazistas, ressalta Martin, que conseguiu montar a atual mostra graças a donativos financeiros de Jan Philipp Reemtsma, realizador da polêmica exposição Crimes da Wehrmacht.