Nem senzalas, nem armarios: Reflexões sobre ser LGBTQI+ E NEGRE

FONTE Por Brenda Stéffani Marques Pereira, enviado para o Portal Geledés
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Dia 17 de maio foi mais um dia internacional da LGBTfobia. Neste dia, há 30 anos (1990), a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças. Um grande avanço para nossa comunidade, que viveu anos de patoligização social e medica. A data sempre é capaz de nos fazer refletir sobre nossos avanços e retrocessos nesse decorrer de lutas. Sou uma muher negra, bissexual e socialista e sempre uso a data para refletir sobre como é ser LGBTQI+ e negre dentro da esquerda e principalmente dentro da comunidade LGBTQi+.

Um dos maiores historicamente desafios teóricos da esquerda e, em especial, dos marxistas, tem sido pensar a sexualidade, as práticas sexuais, as identidades, de maneira revolucionária e por meio do materialismo dialético, sem taxações de pós-modernidade. E um dos maiores desafios da comunidade LGBT é entender a dimensão do racismo como fator significativo nas vivencias sexuais e construções de identidades, assim como a importancia de fazer uma luta anticapitalista pelo marxismo. As disputa de narrativas tanto dos LGBTQI+ que não achavam que tinham espaço na esquerda, como dos marxistas ortodoxos que ridicularizava o movimento e sufocava os debates no conjunto de suas organizações foi uma grande perda para os debates e a construção de um movimento LGBTQI com bases materialistas. Não debater raça por bastante tempo no centro da comunidade LGBTQI+ foi uma perda ainda maior.

Ao longo da historia foram os corpos negres que mais sofriam e menos desfrutavam de qualquer avanço feito pela comunidade LGBTQI. Há de se compreender que nossas orientações sexuais e identidades de gênero são transgressões a essa sociedade patriarcal e conservadora. Amar uma mulher por exemplo, na heterônoma é totalmente potente, ja que essa sociedade molda nossos corpos e desejos nesse ideal burguês de familia, branca, mae, pai,filho, tudo binário, tudo sobre vagina, pênis. E quando se faça a junção com a raça essa transgressão toma outra proporção.Por ser negra a raça se torna um fator constitutivo da minha subjetividade, ser LGBTQI+ não será a mesma coisa.Por exemplo se você é negre e bissexual a piada das duas chances, se desenrolam pra se perceber a solidão da pessoa negra a partir da rejeição de mulheres e homens. É preciso compreender a dimensão da fetichização dos corpos bees em um Brasil que parte da mulheres negras são consideradas mulatas exportação, e hiper sexualizadas desde de cedo.Então qual dimensão isso tem pra uma mulher negra bee? De acordo com o conselho nacional LGBT em 2019, 80% das travestis mortas no Brasil eram negras. Uma pesquisa do Grupo Gay da Bahia (GGB) registrou que entre as mortes LGBTQI+ por assassinato ou suicídio no Brasil, 34% eram de negres.

Todas essas informações precisam ser lidas tambem a partir da perspectiva do sistema capitalista, que é quem mais ganha com essas mortes. Seu papel tem sido principalmente de reforçar essa heterossexualidade sistemática para manutenção de identidades e de papeis de gênero, de superexploração, como é possivel vê pela teoria da reprodução social. Baixar o nivel de escolaridade de pessoas LGBTQI+ principalmente de trans e travestis tambem é outro fator sistematico de uma sociedade que não vai ultrapassa a dimensão do pink money.E é a vida de pessoas negres que vão primeiro tombar.

Para avançarmos partimos da construção de um elo que ligue nossa luta LGBTQI+, a luta antiracista e anticapitalista. Uma comunidade Lgbt que caiba os corpos negres. uma esquerda que caiba a comunidade LGBTQI+. E a destruição total das senzalas e armarios.


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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