Nilton Bonder critica Hebraica por palestra de Bolsonaro

Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

O rabino Nilton Bonder, da Congregação Judaica do Brasil (CJB), reagiu às polêmicas declarações do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) feitas durante apresentação no clube Hebraica Rio, na segunda-feira. Em texto publicado em sua página no Facebook, sugeriu que a instituição mude o nome para “Clube Laranjeiras ou algo que o valha”, escreveu o rabino, em referência à, segundo ele, não representatividade da entidade na comunidade judaica.

Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Por Flávio Tabak Do Extra

Entre as várias declarações controversas, comuns aos seus discursos, e sob aplausos em muitos momentos, Bolsonaro disse à plateia de 300 pessoas que, caso seja eleito presidente da República, não haverá “um centímetro demarcado para reservas indígenas ou quilombolas”, acrescentando que, quando foi a um quilombo, o “afrodescendente mais leve de lá pesava sete arrobas”. Bolsonaro ainda completou: “Não fazem nada. Nem para procriador serve mais”. O parlamentar também criticou refugiados dizendo que não se pode “abrir portas para todo mundo”.

Sob críticas em redes sociais, Bolsonaro já havia sido descartado de um debate promovido pela Hebraica de São Paulo, clube significativamente maior do que o carioca e com outra administração.

Ao GLOBO, Bonder disse que a direção da Hebraica do Rio é composta por um grupo pequeno de pessoas que não são representativas na comunidade judaica, diferentemente da Hebraica de São Paulo, “extremamente ativa, vinculada diretamente à comunidade”.

— É muito chocante assistir a esses vídeos divulgados. É deplorável. Pior ainda com o rótulo de representatividade (da Hebraica) que não corresponde à opinião da grande maioria da comunidade judaica. É hoje um clube periférico. Não consigo imaginar nenhum material mais contrário aos fundamentos da tradição judaica — disse o rabino.

Bonder também falou sobre imigração:

— Os judeus no Brasil têm história de imigração, de terem sido obrigados a abandonar à força os locais onde estavam. Para nós, a fidelidade com o imigrante, com o estrangeiro é enorme. Estamos às vésperas do Pessach, a Páscoa judaica, quando celebramos a saída do Egito e a questão da liberdade. O texto bíblico diz, inúmeras vezes, que precisamos nos identificar com os estrangeiros, é uma dimensão basilar da tradição judaica.

— É muito grave uma instituição, que, de certa maneira, se apresentou como espaço da comunidade e exibiu bandeiras de Israel, permitir uma situação dessas — disse.

O rabino escreveu que o grupo da Hebraica é “inexpressivo e amador” e usou o nome do clube para “sequestrar uma representatividade que nem de perto possui”.

— Foi uma falsidade ideológica com repercussão enorme. A tradição judaica é de valores humanistas e ficou manchada pelos trechos que ficaram ali como sendo uma opinião da comunidade — argumentou. — Há uma presença enorme de judeus nas áreas humanistas, no pensamento, na cultura. Os judeus são muito presentes e isso fala mais alto do que tentar definir uma comunidade por um pensamento ou outro.

Afora os aplausos de segunda, a Hebraica também recebeu manifestações contrárias a Bolsonaro do lado de foraa. Foram aproximadamente 150 pessoas que lembraram judeus mortos na ditadura militar Vladimir Herzog. Bolsonaro defende os anos de regime militar no país.

Parlamentares do PT e do PCdoB protocolaram na quinta-feira representação na Procuradoria-Geral da República pedindo que o órgão apure se Bolsonaro cometeu racismo na palestra. Segundo os parlamentares que assinam a representação, “não se trata de apenas mais um discurso racista, recheado de intolerância e ódio”, mas “ações e condutas, deliberadamente realizadas, sempre com elevado dolo e insensibilidade social, visando claramente alcançar a figura típica do delito de racismo”.

A representação é assinada pelos senadores do PT Humberto Costa (PE), Gleisi Hoffman (PR) e Paulo Rocha (PA) além dos deputados Carlos Zarattini (SP), Benedita da Silva (RJ), Maria do Rosário (RS), Paulão (AL), Vicentinho (SP), Wadih Damous (RJ) e Erika Kokay (DF), todos do PT, e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que pedem a abertura de uma investigação penal.

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