No Orun: Sambista Nelson Sargento morre no Rio aos 96 anos

FONTEPor Filipe Fernandes, do G1
Nelson Sargento durante ensaio fotográfico na Cidade das Artes, Rio de Janeiro, em setembro de 2014 — Foto: Claudia Martini/Enquadrar/Estadão Conteúdo/Arquivo

“Samba, agoniza mas não morre, alguém sempre te socorre, antes do suspiro derradeiro.”

Morreu nesta quinta-feira (27) o sambista Nelson Sargento, aos 96 anos, presidente de honra da Estação Primeira de Mangueira e autor de sucessos como ‘Agoniza, mas não morre’. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) informou que a morte foi às 10h45.

Sargento foi diagnosticado com o novo coronavírus na última sexta-feira (21), quando foi internado no Inca. Além da idade avançada, Nelson também sofreu com um câncer de próstata anos atrás.

No dia 26 de fevereiro, o compositor da Mangueira recebeu a segunda dose da vacina contra a Covid-19 em casa. A primeira dose, em um ato simbólico no dia 31 de janeiro, marcou o início da imunização de idosos.

Uma de suas últimas aparições em público foi em 12 de fevereiro, no Museu do Samba, em um manifesto em defesa do carnaval — cancelado este ano por causa da pandemia.

“Todos nós estamos um pouquinho tristes por não ter desfile, mas foi melhor assim. Temos que estar todos vacinados para fazermos um grande carnaval em 2022”, disse o compositor na ocasião.

Multiartista
Grande representante do samba, Nelson Sargento foi cantor, compositor, pesquisador, artista plástico, ator e escritor.

Em seu último aniversário, quando completou 96 anos, Sargento recebeu homenagens de grandes nomes da cultura popular em um vídeo com votos de felicidade.

Artistas como Mar’tnália, Alcione, Paulinho da Viola, Preta Gil, Tia Surica, Monarco, Regina Casé e Estevão Ciavatta cantaram, cada um em sua casa, o samba ‘Agoniza mas não morre’.

Foto: Evelson de Freitas/BOL

A carreira de Nelson
Nascido em 25 de julho de 1924, na Praça 15, região central do Rio de Janeiro, Nelson Mattos ganhou o apelido de Nelson Sargento depois de uma rápida passagem pelo Exército.

Foi ainda na adolescência que ele despontou na música. Mas foi apenas com 31 anos que o torcedor do Vasco da Gama compôs seu primeiro trabalho de sucesso.

Ao lado de Alfredo Português, em 1955, Sargento escreveu ‘Primavera’, samba-enredo que também ficou conhecido como ‘As quatro estações’. Até hoje, muitos consideram um dos sambas mais bonitos de todos os tempos.

Nelson Sargento durante ensaio fotográfico na Cidade das Artes, Rio de Janeiro, em setembro de 2014 — Foto: Claudia Martini/Enquadrar/Estadão Conteúdo/Arquivo

Nos anos 60, Sargento integrou o grupo A Voz do Morro, ao lado de Paulinho da Viola, Zé Kéti, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, José da Cruz e Anescarzinho.

Entre seus parceiros de composição musical, estão Cartola, Carlos Cachaça, Darcy da Mangueira, João de Aquino, Pedro Amorim, Daniel Gonzaga e Rô Fonseca.

Entre os grandes sambas feitos por ele estão:

Agoniza, mas não morre;
Cântico à natureza;
Encanto da paisagem;
Falso amor sincero;
Século do samba;
Acabou meu sossego.
O mestre do samba ainda escreveu os livros “Prisioneiro do Mundo” e “Um certo Geraldo Pereira”.

No cinema, ele atuou nos filmes “O Primeiro Dia”, de Walter Salles e Daniela Thomas, “Orfeu”, de Cacá Diegues, e “Nélson Sargento da Mangueira” de Estêvão Pantoja. Esse último rendeu ao sambista o prêmio Kikito, no Festival de Gramado, pela melhor trilha sonora entre os filmes de curta metragem.

‘Agoniza mas morre’

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