Nota da Pallas Editora sobre a dissolução do grupo de educação antirracista formado por 11 editoras

FONTEPor Pallas Editora, enviado para o Portal Geleés
Ilustração de 'Abecê da Liberdade', livro infantil que a Companhia das Letrinhas recolhe após críticas - Reprodução

Nesta segunda-feira, 13 de setembro, o grupo de Educação Antirracista, formado no segundo semestre de 2020 por um coletivo de onze editoras, se desfez.

A Pallas Editora integrou o grupo e durante mais de um ano todos nós nos empenhamos no enfrentamento dos temas relacionados ao racismo estrutural e estruturante da nossa sociedade de classes e de privilégio branco.

Buscamos entender de que forma a produção e oferta de livros de editoras e autores engajados nesse tema poderiam influenciar crianças, jovens e professores nas escolas do país. Desse trabalho resultaram seminário, palestras, catálogos coletivos.

O fato que desarticulou o grupo foi a divulgação do conteúdo da obra “Abecê da liberdade: A história de Luiz Gama, o menino que quebrou correntes com palavras”, publicado pela Companhia das Letras, a empresa organizadora do coletivo.

O livro que pretende contar para crianças a história de Luiz Gama, um dos mais importantes brasileiros, responsável pela libertação de centenas de escravizados, traz mentiras históricas e coloca crianças escravizadas brincando dentro de navio negreiro e em casas de comércio de escravizados. Crianças felizes, naturalizando a condição de escravas, e ignorando sofrimento, violência, sequestro, tortura e degradação impostas às crianças, mulheres e homens que sofreram essa violência – reforçando, assim, a possibilidade da história do Brasil inventada, que persegue submissão dócil e abuso sem culpa.

A editora recolheu o produto, mas o estrago está feito e reverbera em artigos a justificativa do autor, que se sente perseguido e censurado. Autor que não se desculpa, que está convicto de que pode distorcer a história e contar uma que mais lhe agrade.

Reprodução/ Facebook/@PallasEditora

A Pallas tem 46 anos de trajetória na divulgação dos saberes afro-brasileiros e africanos. Sempre esteve junto das lideranças religiosas que mantêm espaços sagrados ameaçados por fundamentalismo religioso e pela violência do Estado. Sempre lado a lado com escritoras e escritores que completam lacunas da história embranquecida do Brasil.

E, também, com o selo Pallas Míni, ao lado de crianças e jovens que recuperam as trajetórias de seus antepassados e buscam recontá-las com orgulho. Contribuímos, dessa forma, com a reconstrução e a reafirmação identitária dos corpos afro-descendentes. E assim seguiremos produzindo livros que denunciem o racismo e o preconceito que tanto violentam a parcela majoritária de nossa população e exaltem a cultura e a história afrobrasileiras.


** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE. 

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