Número de mulheres jornalistas presas cresce 35% no mundo, aponta relatório

FONTEFolha de São paulo, por AFP
(Credit: PAUL J. RICHARDS/AFP via Getty Images)

O relatório anual produzido pela ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), divulgado nesta segunda (14), aponta que 387 jornalistas foram detidos em 2020, dado que praticamente não mudou em relação ao ano passado, apesar do aumento das prisões arbitrárias relacionadas à crise do coronavírus e da disparada de detenções entre mulheres.

“O número de jornalistas detidos em todo o mundo permanece historicamente em um nível alto”, diz o documento. No ano passado, foram 389 detidos em decorrência do exercício de sua profissão.

Cinco países respondem por mais da metade (61%) das detenções deste ano: a China continua liderando, com 117 jornalistas (profissionais ou não) presos, à frente de Egito (30), Arábia Saudita (34), Vietnã (28) e Síria (27).

A detenção de mulheres jornalistas subiu 35% na comparação entre os dois anos. Atualmente, há ao menos 42 delas privadas de sua liberdade, número que representa 11% do total de profissionais.

Segundo a RSF, só neste mês, 17 jornalistas foram presas, com destaque para quatro detenções na Belarus —país que se tornou palco de protestos ininterruptos desde a reeleição considerada fraudulenta do ditador Aleksandr Lukachenko, em agosto— e no Irã, que, no sábado (12), executou por enforcamento o jornalista dissidente Ruhollah Zam.

No mês passado, a ONG pediu à ONU (Organização das Nações Unidas) a criação de um cargo específico que trate da segurança de jornalistas. “As ameaças estão se tornando cada vez mais sutis e muito mais difíceis de combater”, afirmou o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire.

O balanço da ONG também destaca o aumento das prisões vinculadas à crise provocada pelo coronavírus. Desde o início da pandemia, pelo menos 14 jornalistas foram detidos devido a seus trabalhos sobre a Covid-19 —metade deles na China.

A RSF lançou em março a iniciativa Observatório 19, com o objetivo de compilar casos de ataques à imprensa e limitações à livre circulação de informações relacionados à pandemia.

De fevereiro a novembro, segundo o levantamento, houve mais de 300 incidentes nessas circunstâncias envolvendo cerca de 450 jornalistas —em 30% dos casos, os profissionais foram submetidos a algum tipo de violência física ou psicológica.

“As leis do estado de exceção e as medidas de emergência adotadas em grande parte do mundo para combater a pandemia de Covid-19 contribuíram visivelmente para um ‘lockdown’ de notícias e informações”, diz o relatório da ONG.

Jornalistas não profissionais, como a advogada chinesa Zhang Zhan, também entram nos cálculos da RSF. Ela foi presa por autoridades do país sob acusação de “causar problemas” por divulgar informações no Twitter e no YouTube sobre os primeiros casos de coronavírus em Wuhan.

A ONG também destaca sentenças “extremamente duras” e desproporcionais, como a dada ao comentarista político Ren Zhiqiang. Membro do Partido Comunista Chinês, ele foi considerado desaparecido em meados de março depois de apontar falhas na resposta dada pelo regime de Xi Jinping à pandemia.

Em setembro, Ren foi condenado a 18 anos de prisão e recebeu multa de 4,2 milhões de yuans (R$ 3,27 milhões) por supostamente “aceitar subornos e fazer mau uso de fundos públicos”.

Em Bangladesh, o blogueiro Mushtaq Amed está em prisão preventiva desde maio por “espalhar rumores e desinformação no Facebook”. O ato considerado criminoso pelas autoridades do país foi a publicação de uma reportagem sobre a falta de equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde.

Em Mianmar, Zaw Ye Htet, editor de um site de notícias, foi condenado a dois anos de prisão por reportar a morte de uma pessoa infectada com Covid-19.

Ainda segundo a RSF, há pelos 54 jornalistas presos como reféns em países como Síria, Iêmen e Iraque por grupos não ligados a governos de nenhum país, como as facções terroristas Estado Islâmico e Al-Qaeda.

O relatório também traz relatos de desaparecimento de quatro jornalistas: Tawfik Al-Tamimi, no Iraque, Bwira Bwalitse, na República Democrática do Congo, Daysi Liseth, no Peru, e Ibraimo Mbaruco, em Moçambique. Em 2019, não houve registros de jornalistas desaparecidos.

 

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