Número de pessoas em situação de pobreza no Brasil bate recorde, mostra pesquisa

São quase 63 milhões de pessoas no Brasil que, no ano passado, viviam em domicílios onde a renda por pessoa não ultrapassava R$ 497 por mês.

FONTEJornal Nacional
Reprodução/G1

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou o maior número de pessoas em situação de pobreza já registrado no Brasil.

“A gente não pode comprar nada para as crianças, entendeu? Quer comprar uma roupinha, não pode. Dar alguma coisa que eles pedem, também não pode. E é isso. A gente só está trabalhando, mesmo, conseguindo aquilo com sacrifício para poder comprar alimento para dentro de casa”, diz Josenilda.

Josenilda vive com o marido e quatro filhos num quarto alugado no centro do Rio. Hoje, sobrevivem com o auxílio do governo e o dinheiro que ganham como ambulantes.

Josenilda: A gente vende água, uns docinhos. E a gente também pretende vender café, fazer um cafezinho para poder aumentar a renda um pouquinho.
Repórter: Quanto é o aluguel?
Josenilda: R$ 600
Repórter: E vocês ganham quanto?
Josenilda: A gente ganha R$ 600. E a gente paga o aluguem e vive de… Às vezes, as pessoas ajudam a gente a comprar alimento, alguma coisa assim.

Quase 10 milhões de brasileiros passaram a viver em situação de pobreza de 2019 a 2021. É quase toda a população de Portugal.

A FGV Social usou dados do IBGE para criar o mapa da pobreza no Brasil. O levantamento leva em conta a definição do Banco Mundial do que é pobreza a partir da renda das famílias. São quase 63 milhões de pessoas no Brasil que, no ano passado, viviam em domicílios onde a renda por pessoa não ultrapassava R$ 497 por mês.

O valor não dá para comprar uma cesta básica em nenhuma capital do país. A pesquisa mostra também um aumento dos que estão na chamada extrema pobreza. São 33 milhões de brasileiros que vivem com menos de R$ 289 por mês. Pelo levantamento, que usa dados que começaram a ser coletados em 2012, esse é o pior cenário já registrado.

“Você tem a chegada da pandemia no país, a queda de ocupação, depois tem a chegada da inflação, inflação de alimentos, inflação dos pobres, que de alguma forma corroeu. Se a gente olhar no mercado de trabalho, está tendo uma recuperação do emprego, mas a renda do trabalho nunca esteve tão baixa quanto agora, porque a inflação está fazendo o papel de deteriorar a renda das pessoas”, explica Marcelo Neri, diretor da FGV Social.

A pesquisa também fez um retrato da pobreza no Brasil por estados. O Distrito Federal e 24 dos 26 estados brasileiros registraram piora, e em quatro deles o número de pessoas em situação de pobreza passa da metade da população.

Pernambuco, Alagoas, Amazonas e Maranhão, o estado que tem a maior proporção de pessoas nessa condição, como a família de Dona Joana, de 73 anos. No interior do Maranhão, ela, os filhos e os netos dividem o terreno e toda a renda que conseguem. São sete adultos e sete crianças que dependem do auxílio do governo e da venda do carvão e do óleo do babaçu para comer.

“Às vezes a gente fica sem almoçar, às vezes não tem para almoçar, às vezes tem para almoçar, mas é pouca, e deixa para janta. Para jantar, porque a noite é mais longa.”

O diretor da FGV Social diz que o país precisa de medidas emergências e, também, políticas públicas permanentes para reduzir a pobreza.

“No curto prazo, você tem que transferir renda de uma maneira bem equilibrada, focalizada nos mais pobres, e a longo prazo você tem que investir em educação, em atividades produtivas para que as pessoas possam gerar sua própria renda”, explica Neri.

Na família de Dona Joana, o maior desejo é ter a certeza de que todos vão ter comida na mesa todos os dias.

“Meus filhos são todos pequenos, e às vezes eu deixo de comer para dar para eles. Cansei de fazer isso. Tirar da minha boca e dar para eles comerem, para eles não dormirem com fome”, conta a dona de casa Joseleine Mendes.

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