Nunca desperdicei voto.

Voto é a única arma que tenho desde 1974, para pelo menos em minha consciência saber que lado eu escolho da vida, se o do bem de todos, ou dos jeitinhos para mim mesmo e o resto que se dane.

Do Mama Press

Em 1974, com 21 anos de idade,  votei pela primeira vez num sujeito que hoje representa nas sombras, o que há de pior em ser homem político em meu país. Tecnocrata, corrompedor de almas e antidemocrático.

Contradição? Não. Na época ele era um garoto, que aos poucos se revelou um anjo do mal e criador de tentáculos milicianos na vida social, política e econômica de nosso estado e de nosso país.

Mas o principal foi, que o meu voto individual em 1974, foi mais um furinho na ditadura civil-militar, pois ajudou a infringir uma grande derrota à milicada-civil nas prefeituras das capitais brasileiras.

Niterói ainda era uma capital e deve ter sido vingança terem acabado com o nosso antigo estado do Rio, que desde 1964 era conhecida como o estado da capital vermelha.

Para quem não sabe, Niterói era em 64 uma capital de defesa do governo eleito de João Goulart. A Guanabara, de Carlos Lacerda governador, era o bastião da conspiração americana-empresários brasileiros do golpe de 1964.

A repressão baixou feio por aqui e prenderam tanta gente no golpe, que tiveram que transformar o Estádio de Futebol Caio Martins em masmorras da ditadura.

Fomos assim, a cidade que inaugurou a rota de estádios na América Latina transformados em campos de tortura, prisões, mortes e desaparecimentos de presos políticos.

O Estádio Nacional de Santiago do Chile foi inspirado em Niterói, e pelo menos um dos professores brasileiros de tortura, que desembarcaram em Santiago em 1973, tinha livre trânsito no Dops de Niterói.

Assim eu tive um voto em 1974, marcado pelo sangue e pelo desejo de estancar o sangue na América Latina. Valeu, pois tempos depois nos anos 80, em algum lugar do Brasil, alguém colheu a folhinha  da liberdade plantada em 1974.

O cara? Mudou, ou se já não prestava, não sei.

Mas pessoalmente posso medir que meu voto sempre acertou desde 74, pois não voto por acreditar em pessoas, mas na força de meu voto junto com os votos de outras pessoas, que como eu votam em ideias e convicções em mudanças. E de 1974 até hoje muita coisa mudou e para melhor.

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Em 1989, com minha cabeleira e meus 36 anos de idade, votei pela primeira vez para presidente, foi um voto extremante suado, que valeu até uma estadia forçada fora do país e o sangue, a dor e a vida de muitas amigas e amigos.

Tenho certeza que votei sempre no presidente certo, pois passa a ser meu presidente ou presidenta, quem for é eleito ou eleita, mesmo quando voto em outro ou outra, pois sempre voto no meu direito cidadão de votar. Simples, né. Tudo que exceda o mandato que dou com o meu voto, não me representa.

Não brigo com meus amigos e amigas que votam e torcem por pessoas, como se torcessem por times de futebol. Tive sorte de estar fora do país na época em que condutores políticos, foram americanizados e transformados em marqueteiros vendedores de pasta de dente, e não homens e mulheres de convicções, sem arranjos para venderem seus produtos.

Tem gente que está confusa, pois vivemos uma época sem os chamados grandes políticos.

Pelo contrário, não estou confuso. Para falar a verdade, pressinto a era do fim dos caudilhos, ou pelo menos temos uma grande chance de chegarmos nela.

Claro que é difícil para todo mundo, andar sem ter um caudilho condutor, para ensinar o caminho político para sair do caos e evitar as maledicências políticas.

Claro que é difícil olhar para o planalto e ver que está no poder formal, a mesma turma em traje civil, que eu combatia em 1974, mesmo quando estavam camuflados de “juventude de esquerda”.

Agora o cidadão está entregue à própria sorte. Acontece que é uma grande sorte para o cidadão começar a ter a própria sorte e destino na mão.

Eles têm o poder político nas mãos. Nós temos o nosso poder de cidadão nas mãos. Está na hora da queda de braços.

Só nós cidadãos poderemos estancar o sangramento econômico e literalmente físico da nação com seus 60 mil assassinados a cada ano.

Os responsáveis que se locupletaram da morte de 1964 até hoje, estão aí para qualquer cidadão ver.

Somos quase 600 municípios, o que faz que todo mundo acabe conhecendo todo mundo em seu município e no do vizinho.

Que chance enorme que nós temos de fazer uma constituinte em cada cidade!

Mas estejam certos, o TSE vai botar graxa na mesa em que fica o nosso braço cidadão a cada “Queda-de-Braço”..

Mas democracia é assim mesmo só se aprende fazendo. Pois quem não se arrisca a cair não aprende  a andar.

ps: Negros, índios, mulheres e pobres torceram um dobrado para votarem na história de nossa república. Hoje os vampiros nos caçam a cada quatro anos para que votemos neles.

Pela ótica do prisioneiro podemos dizer que avançamos. Só resta saber que as algemas são só mentais.

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