O algoritmo e a internet: a invisibilidade do corpo negro nas redes sociais

FONTEPor Gustavo dos Santos Rodrigues, enviado ao Portal Geledés
Foto: Stock/Adobe

Nesses últimos tempos, tem sido bastante comum a discussão por parte de perfis de pessoas negras conhecidas na internet o quanto suas postagens são, muitas vezes, limitadas a um determinado grupo, muito menor se comparado aos que seguem e recebem conteúdos de outros influenciadores não negros. Essa problemática foi levantada com a intenção de que pudéssemos discutir o racismo que também perpassa pelas questões tecnológicas, afetando assim o desenvolvimento daqueles que utilizam a internet como meio de divulgação de seu trabalho. Afinal de contas, o que causa essa segregação?

Embora esse assunto seja algo muito recente, a intersecção a qual ele faz parte já é de conhecimento de toda a população há muito tempo. Infelizmente, o Brasil, um dos países cuja quantidade de pessoas declaradas pretas ultrapassa as brancas, ainda precisa enfrentar o racismo diário através de ofensas e agressões. E, com o advento das TICs (Tecnologias da informação e comunicação) e o avanço da internet, nos deparamos com uma nova forma de encarar com esse preconceito. Para quem acompanha os maiores influenciadores negros do Brasil, em algum momento já deve ter se deparado com postagens e vídeos sobre o tão conhecido algoritmo e o quanto ele os exclui da viralização de seus conteúdos. Para quem ainda não sabe o que essa palavra significa, vou explicar. O algoritmo é, nada mais nada menos, que um determinado texto contendo comandos específicos. Esses, seguirão uma ordem para uma execução a qual terá um propósito. Por aqui já podemos entender que ele faz parte de um sistema criado por alguém e programado por essa mesma pessoa para funcionar de uma maneira direcionada. Compreender como esse processo é realizado é primordial para a nossa análise a partir deste ponto.

O setor da tecnologia da informação ainda é uma das áreas de grande desigualdade racial e de gênero em todo Brasil. Em outras palavras, podemos dizer que a quantidade de pessoas brancas e homens trabalhando com o desenvolvimento digital é muito maior que os colaboradores negros e mulheres. Quando incluímos nessa discussão um recorte ainda mais específico como mulheres negras nesse mesmo setor, conseguimos perceber uma diferença ainda maior. Essa discrepância, por sua vez, é notoriamente responsável pelo problema que me trouxe a produzir este artigo: o boicote digital que influenciadores pretos enfrentam nas redes sociais. O fato é que o algoritmo, elaborado por pessoas majoritariamente brancas, de alguma forma exclui racialmente aqueles que não se enquadram nos perfis determinados pelos seus comandos. Comandos esses delineados para servirem de trampolim unicamente ao material de pessoas já socialmente privilegiadas na sociedade. Essa dinâmica, embora pareça ser absurda, não é. Há pouco tempo, alguns artistas, blogueiros e instagramers postaram em suas redes sociais um teste onde cada um adicionou duas fotos diferentes em uma mesma imagem. Numa extremidade, tínhamos uma pessoa negra, enquanto na outra, havia uma pessoa branca. Essa imagem estava fora dos padrões de enquadramento, mas, mesmo que tentássemos adicionar a foto da pessoa negra como destaque, quem sempre aparecia de prontidão na rede social em questão era apenas a pessoa branca. Enfim, este é apenas um exemplo para mostrar como o algoritmo esconde os perfis de diversos influenciadores até mesmo de quem os segue, preferindo destacar unicamente aqueles cuja pele não tem um histórico de 300 anos de escravidão.

Essa invisibilidade, que em um primeiro momento pode parecer inofensiva, faz parte de mais uma das formas de segregar pessoas negras, cercear seus direitos e tentar barrar o avanço de seu trabalho. É inadmissível que aceitemos a continuação desse sistema, uma vez que ele, assim como os crimes praticados por pessoas fora da rede preconceituosas, também se configura como racismo. No entanto a gente percebe que essa dinâmica já está bastante naturalizada. Assim, vemos em números muito claros, a quantidade de seguidores de influenciadores e artistas negros ser menor do que a de seus pares de mesmo trabalho, só que brancos. Talvez, como uma dica, ainda que o algoritmo continue sendo projetado para não identificar os nossos, será preciso que tomemos atitudes mais precisas, a fim de que possamos ter mais espaço nas redes. Uma delas, é seguir com mais frequência esses perfis, acionar o botão de sempre ser notificado quando algum material for adicionado à rede e, logo após, assistir e curtir. É bem possível que essa não seja a medida mais correta e que fará uma mudança realmente significativa, mas até que tenhamos uma modificação drástica no setor da tecnologia da informação, quem sabe essa seja a única coisa que, no momento, possamos fazer para ajudar.

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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