O amor entre duas mulheres negras no pé de BAOBÁ

 

A dor que rasga a alma o faz para deixá-la maior, mais larga, mais profunda e mais exigente a fim de caber mais VIDA a fim de caber mais AMOR

Por Eloá Kátia Coelho enviado para o Portal Geledés

Era sábado, sol quente.

Ela chegou.

Não sei de onde venho, mas venho…

Ao passar seus olhos leram minha alma

Os meus a sua e com muita calma.

Nos despimos literalmente depois…

Ali se iniciou um vínculo, uma ligação, uma relação onde não estávamos mais sois.

Silenciosamente o desejo apareceu e começou a tomar forma.

Era o que acontecia a elasticidade que informa, conforma e transforma.

Havíamos feito a parte mais difícil, ficar de alma nua, diante da vida.

Queríamos ter no coração palavra aquecida

Naquela madrugada fizemos amor, depois amor e depois mais amor e assim foi paulatinamente.

Era por deveras envolvente.

O acarinhar em nossos corpos de ébano.

Era muito feminino…

Eu em seu corpo tocava piano.

Ela no meu corpo contava plano.

A vida não era mais a imensidão do oceano.

E nem a longura de urano ou saturno…

Aquele toque era muito humano.

Dormimos de conchinha…

Ficamos quietinhas…

Quentinhas, do tipo agarradinhas.

Quando ela em meus braços dormia…

Eu desenhava parte a parte com minhas mãos sensíveis seu rosto e eu ria.

De alegria.

E ela daquela posição nem saia.

E tão pouco sabia que eu poderia lhe oferecer e declamar publicamente esta poesia.

E ela nem percebia.

Delicadamente nem se mexia…

Com aquele frio que fazia…

Eu a cobria…

Estávamos precisada uma da outra e nem sabíamos.

Soubemos naquele dia…

Então tivemos a ousadia em ter somente a nossa companhia.

Apareceu uma gigante energia.

Naquele olhar não cartesiano.

Tivemos pressentimento, intuição e desejo que nos acompanhou durante 1, 2, 3 ano.

Ao nos aproximar vimos que não foi engano.

A vida nunca avisa quando o ponto sai fora da curva

Ela já sabe que eu adoro comer uva.

A entrega foi assertiva.

A vida nunca avisa quem vai chegar e te virar do avesso gostosamente

Gentilmente, docemente e alegremente.

A vida nunca mais será a mesma.

Certamente eu não sou mais a mesma pessoa.

Sinto que nem ela mesmo é a mesma por que estamos de boa.

Mudamos por dentro e por fora.

Estamos muito mais felizes agora.

Projetamos felicidade para o meio que nos cerca.

E era longe demais do Ribatejo de Alverca.

Há em nós um despertar sobre a vida, da vida e na vida.

A vida é surpreendente!

A vida e elegante!

Que surpresa ter aquela mulher em meus braços, beijá-la e receber aquela montanha de carícias e toque de veludo.

Aquilo era tudo.

Era ela com quem havia sonhado semanas atrás e há desejado por muito tempo sem saber onde e como encontrá-la.

Era o círculo luminoso ou colorido que circunda a passagem em frente ao sol, era ela, a auréola.

Eu já havia percorrido o mundo…

E dentro de mim havia um sentimento profundo…

A desejava.

A almejava.

Desejava aquela mulher negra, era ela…

Eu sabia.

Ela ela quem eu queria.

Ela também me chamou, metafisicamente

Me viu com cabelo emponderado, solto e black na sua mente.

Eu esta mulher negra era dela.

Estava dado o contado de duas mulheres negras, nas relações homoafetivas.

Fomos objetiva, refletiva, seletiva, efetiva, subjetiva e, sobretudo, afetiva.

Quebramos paradigmas sobre felicidade, sobre confiança.

Construímos uma confraria, uma irmandade e uma aliança.

SIM!

Podemos amar e ser amada.

Podemos gostar e ser gostada.

SIM!

Podemos ser desejadas e fazer amor…

Podemos ficar longe da dor.

SIM!

Podemos namorar…

Andar de mãos dadas, viajar.

Podemos casar.

SIM!

Devemos apresentar a família…

Não somos uma ilha.

Somos adultas, responsáveis pelas ações e desejos, poderíamos ter parado ali..

Chegamos até aqui!

Não paramos…

Continuamos.

Devemos ir além…

Estarmos juntas nos faz bem…

Nossos corpos são lindos e quanto mais juntos mais lindos e quanto mais lindos mais juntos…

É contato de alma.

Aquele que acalma.

É amor também intelectualidade.

Muita completude.

É uma virtude, similitude, amplitude.

O corpo sabemos é um templo sagrado em constante ebulição…

Permanente pulsação…

Entramos uma no ritmo do coração e do olhar…

Existem palavras que nem precisamos falar.

Estamos a caminhar…

Queremos nos conhecer, sair, conversar, rir juntas e chorar juntas…

Não existem várias perguntas.

A gente intersecciona da nossa vida as pontas.

Vamos dançar, ir a lugares desconhecidos, perambular pelo mundo.

Por aquele ou outro lugar fecundo.

Nosso sentimental não é mais invisível…

Nosso amor é absorvível, acessível, perceptível.

Nos vemos, nos tocamos e nos abraçamos carinhosamente a luz do dia.

A gente ria na casa da tia…

Tem muita espiritualidade envolvida.

A vida é linda.

É transcendental.

Mas não somente intelectual.

E outra dimensão…

Onde ambas agarram uma da outra a mão.

Somos seda entre nossos cristais.

Cristais são dores de alma que precisam ser quebrados, mas com carinho, precisam ser expurgados, mas com amor, precisam sair do corpo delicadamente.

Aprendemos que a dor do mundo não é nossa dor…

É dor da vida!

Que não deve ser plantada e tão pouco cultivada.

E nem eternizada.

Decidimos arrancar estas dores com doses de atenção…

Recebemos este momento como uma bênção.

Presente de emoção e razão!

A dor que rasga a alma o faz para deixá-la maior, mais larga, mais profunda e mais exigente a fim de caber mais VIDA a fim de caber mais AMOR..

Então, eu estava lá e vim sem que ela soubesse de onde.

Sem agenda e protocolo.

Queríamos colo.

A vida nos presentou com linhas , com curvas, com esquinas.

Enfim é o segredo das abelhas africanas embaixo da árvore de BAOBÁ.

Arvore sagrada..

O corpo é sagrado.

O amor é sagrado…

O sexo é sagrado…

E a vida providencia tudo em seu tempo…

O tempo é o tempo da vida.

Agora mais colorida.

E cá estamos…

Hoje é uma declaração pública de AMOR rodeado de ramalhetes de flores e coraçãozinhos…

Ah tem bombonzinhos.

E com uma baita energia…

Em vê-la sorrir de alegria.

Tiro foto com a minha retina.

E sentir a abrangência…

Deste sentimento que nos tem.

Porque quebrar regras impostas se faz necessário…

Em qualquer calendário.

Pressentimentos existem.

Escutem, sentem, levantem, tentem, acreditem…

Se permitem…

Se soltem…

Se amem..

 

 

Preta EU TE AMO!

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