O cancelamento de Exibit-B no Brasil

Durante o ano de 2015, muitas lutas contra o racismo surgiram não somente nas redes sociais como também em espaços físicos reais. Destaco aqui, com prazer e orgulho da comunidade negra (e guerreira), a luta contra o racismo nas artes.

Enviado por Marcelo Moreira de Jesus via Guest Post para o Portal Geledés

Logo após uma peça de teatro (“A mulher do trem” da “Cia Os Fofos Encenam”) ser barrada no Itaú Cultural por conter “black-face” em sua produção, uma comunidade afrocentrada do facebook recebeu a notícia que Brett Bailey chegara ao Brasil com o objetivo de expor na MIT-SP 2016 (Mostra Internacional de Teatro) a sua “performance artística” Exibit-B. A montagem do “artista” branco sul-africano já havia sido barrada em outros países – Canadá , França, Reino Unido – e, agora 2016, está cancelada no Brasil também.

O mérito principal da luta vai para o grupo de negras e negros denominado “FRENER Brasil” (Frente Negra de Erradicação do Racismo no Brasil). Tal grupo formou-se imediatamente após saber das intenções racistas de uma artista mal-intencionado e de uma curadoria desatenta. Alguns, talvez, gostem de assim enxerga-los.

A peça que pretendia expor corpos negros para “o público paulistano refletir o racismo” (palavras da curadoria e do Sr. Bailey), foi classificada como racista por quem realmente sabe o que é racismo e sofre cotidianamente com um sistema cruel que, quando não mata, deixa suas fortes marcas sociais. Inegavelmente, são os negros e negras os que têm legitimidade e poder para determinar o que é racismo ou não, como este deve ser combatido e exterminado. O protagonismo é nosso. Deixamos a branquitude a tarefa de reconhecer seus privilégios e abrir mão deles.

Pois bem. Partimos, desde o primeiro semestre de 2015, a reuniões com a curadoria, com o “artista incompreendido”, com órgãos políticos e judiciais, entidades acadêmicas (ECA-USP), instituições culturais e educacionais, para EXIGIR o CANCELAMENTO do Exibit B no país.

Após longo trabalho em conjunto e dedicação dos membros da FRENER, foi o nosso objetivo que prevaleceu: no dia 02 de fevereiro de 2016, recebemos a notícia, através de reportagem da Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/02/1735898-com-programacao-reduzida-mostra-de-teatro-de-sp-tera-racismo-como-tema.shtml), que a montagem racista de Brett Bailey foi cancelada. O artista que aqui nunca foi bem-vindo, sairá do Brasil sem apresentar a sua performance.

A matéria apresenta a declaração de “falta de verba”, o que não faz sentido. A peça, conhecida internacionalmente como zoo humano, seria a atração principal da Mostra. Além disso, sabemos que a verba para edição 2016 seria maior que a verba da última edição. Os atores e atrizes negras que seriam expostos também já estavam selecionados.

Lamentamos por estes atores e atrizes negras que já estavam selecionados para o trabalho. E temos a certeza que, na luta conjunta, o mercado artístico os contemplará com cargos dignos que farão jus a grandiosidade do nosso povo.
De qualquer forma, o intuito de denunciar o racismo e cancelar a produção foi bem-sucedido. Mais do que isso, a Mostra terá como tema central o Racismo.


A mensagem final é que somente através da mobilização que negros unidos alcançam suas vitorias… ou “falta de verbas”, chamem como quiser.

Não podemos esquecer da contribuição internacional de grandes aliados nesse processo. Companheiros de Londres e Paris nos mandaram sempre forças e apoio para a mobilização.

Uma batalha vitoriosa nos dá orgulho e ânimo para continuar uma guerra extensa.

A convicção é de vitória e de que racistas (nas artes inclusive) NÃO passarão!

#ubuntu #4p #BlackPower

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