O divino 13 de maio – Por: Antônio Carlos Côrtes

O árbitro Márcio Chagas sofreu ato de racismo em Bento Gonçalves, no jogo Esportivo x Veranópolis. Consta que 20 torcedores gritaram “macaco selvagem”. No estacionamento, seu veículo foi amassado e bananas colocadas sobre o capô e no escapamento. Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea oca e vazia, mas fez história. Em 5 de março de 2014, a Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves, com endereço à rua 13 de Maio, por sua delegada, investiga. Questões negras no Brasil provêm da era colonial e escravocrata.

Como foi mal resolvida, alcança nossos dias. Até porque o trabalho em que o negro foi protagonista nas charqueadas e canaviais nunca teve reconhecimento, e políticas afirmativas são contestadas pela sociedade global. A coincidência citada antes observa recado divino que pode também ganhar força quando Jamelão, em 1988, decorridos 100 anos da abolição da escravatura, ecoou versos na Passarela Darcy Ribeiro samba-enredo: Será que já raiou a liberdade/ Será, que a lei Áurea tão sonhada/ Há tanto tempo assinada/ Não foi o fim da escravidão/ Hoje dentro da realidade, onde está a liberdade/ Onde está que ninguém viu. Sou de paz e aplico perdão irrestrito aos racistas. Rezo por eles, pois são doentes e não conseguem aceitar o sangue negro que circula neles. Há, em suas almas, vinculações psicológicas não tratadas, mas defendo medidas enérgicas por parte das autoridades, bem como políticas públicas que busquem reduzir o fosso da desigualdade social, a qual, enquanto não for equacionada, o racismo continuará, pois o ódio racial é mais perigoso que a bomba atômica. A tomada de consciência da classe média negra grassa da união e começa a mudar a história. Os negros conseguiram sobreviver ao holocausto da escravidão, e isso incomoda quem desejava eliminá-los. Não negros sentem-se incomodados pela culpa, e isso dói. O racismo do não negro se volta contra ele.

Advogado

Fonte: Jornal do Comércio

-+=
Sair da versão mobile