O encanto e a brejeirice das tradições das Folias de Reis

Foto: João Godinho

As festividades natalinas encerram-se em 6 de janeiro, Dia de Reis – celebração do catolicismo popular aos Santos Reis ou Reis Magos, data da lendária visita dos reis do Oriente (B) Melchior, Gaspar e Baltazar ao Menino Jesus, presenteado, respectivamente, com ouro, incenso e mirra, que à época representavam a realeza (ouro), a divindade (incenso) e o sacrifício final de Jesus (mirra). Os Santos Reis não foram canonizados, mas o povo os vê como santos. Há dúvidas se existiram, porém seus supostos restos mortais estão, desde 1161, na igreja de Colônia, na Alemanha.

Por Fátima Oliveira

A adoração aos Santos Reis é forte na Europa. Na França, come-se a “Galette des Rois” (torta com recheio de creme de amêndoas). Ao comprar galette em “boulangeries” e “pâtisseries”, recebe-se de brinde duas coroas de papel. A tradição data dos romanos: uma fava seca, ou grão de feijão, é colocada na torta para a escolha do “Rei do Dia”. A fava foi substituída por uma imagem de porcelana.

Na Itália, a galette é uma coroa de pão doce com recheio de frutas cristalizadas, chamada de roscón na Espanha. Acontece a “Cabalgata del Reys” em muitas cidades espanholas – cortejo dos Reis Magos com carros decorados; e ao fim do desfile, os reis descem dos carros para mimar as crianças com “carbão de azúcar”. Há o costume de deixar nas janelas bolinhos e copos com vinho ou licor para os reis; e de sair em cantoria de porta em porta pedindo o “Aguinaldo”, que são doces e dinheiro.

Na Hungria, crianças vestidas de Reis Magos e com presépios nas mãos pedem moedas de porta em porta. Crianças alemãs também se vestem de Reis Magos e escrevem as iniciais de seus nomes nas portas das casas. Em Portugal, há a cantoria chamada de “Janeiras”, dias 31 de dezembro e 1º de janeiro, e em alguns lugares é ofertado azeite novo para as candeias da igreja ou capela, em homenagem às almas de familiares mortos; e o “Cantar de Reis” (reisada ou reseiro), nas pequenas aldeias, vai de 5 a 20 de janeiro, com grupos entoando, de porta em porta, canções tradicionais da vida de Jesus, acompanhados de reco-reco, ferrinhos, bombo, acordeom e viola. Após a cantoria, há comes e bebes. A tradição culinária é o Bolo Rei – com uma fava, e quem a encontra paga o bolo no ano seguinte -, relembrando a lenda que conta que os reis discutiram sobre quem entregaria o presente primeiro. Foi feito um bolo com um grão de fava dentro, e quem a recebesse em seu pedaço seria o primeiro.

No Brasil, que herdou de Portugal o culto aos Santos Reis, as manifestações, sem a tutela do clero e legitimadas como espaços de inclusão social, vão de reisados (ternos ou folias de reis), congada, queima da lapinha ou de palhinhas, rezas e cavalhadas, dependendo da região.
Em São Luís do Maranhão três tradições traduzem a devoção ao Menino Jesus, que são os grupos de pastores (auto de Natal); reisados, que integram três expressões artísticas: música, dança e teatro; e, no 6 de janeiro, há também a queimação de palhinhas – reza do terço e de ladainha (em latim!) e cânticos. São tradições da cultura popular de rara beleza cênica, teatral e musical.Criança, eu morria de medo dos “caretas” dos Santos Reis, mas o encanto das vestes coloridas, chapéus cheios de fitas e espelhinhos e cantorias maviosas ainda mexe muito comigo.

Ateia, sinto-as como parte de mim, pois são patrimônios culturais imateriais que revelam as entranhas de minhas origens, que o diverso, belo e brejeiro reisado mineiro acalanta.

Fonte: O Tempo

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