O lado francês do racismo – Por: Maurício Pestana

Certas notícias suscitam indagações e reflexões sobre as contradições raciais existentes aqui e em outros países, e por mais que nos indignemos com a desgraça alheia, não há como deixar de lado o nosso próprio infortúnio. O caso em questão é a crueldade com a qual tem sido tratada a ministra da Justiça da França, Christiane Taubira, que foi comparada a uma macaca.

Natural da nossa vizinha Guiana Francesa, Taubira vem sendo vítima de numerosos ataques desde que tomou posse, em 2012. O último deles provocou forte comoção no país: uma candidata do partido de extrema-direita Frente Nacional, Anne-Sophie Leclère, colocou no Facebook uma montagem onde a ministra é apresentada como um macaco.

Taubira ocupa a pasta da Justiça em um período de forte discussão sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo – ela foi a principal responsável pela legalização da união homoafetiva na França. Franceses conservadores exibiram cascas de banana nas mãos e chamaram a ministra de “gorila”. “Prefiro ver a ministra pendurada no ramo de uma árvore do que no governo”, disse a ex-candidata da Frente Nacional, suspensa após a polêmica declaração.

A França demonstra-se um país racista, onde uma autoridade é tratada com desrespeito tanto pela população quanto por políticos. Concordam? Mas, parando para pensar, pelo menos eles têm um afrodescendente comandando um ministério. Aqui, o racismo não permite que nem isso tenhamos, afinal só existe uma ministra negra no alto escalão do Governo Federal, e ainda assim ocupando uma secretaria com status de ministério (Igualdade Racial). Como agravo, é a única pasta que, por sua origem como reivindicação histórica, não poderia ter à frente ninguém que não fosse afrodescendente.

NEGROS EM DESTAQUE
Mudando de assunto, a capa desta edição da Raça traz personalidades influentes no país, fazendo justiça aos negros que, aqui, tiveram a visibilidade que merecem por seus feitos em 2013 em várias áreas de atuação. Isso tudo para mostrar que temos gente de muito talento, embora ainda caminhemos lentamente na questão racial, comparados a outros países. Nos Estados Unidos temos dois grandes exemplos: o presidente Barack Obama e a queridinha da televisão e mega empresária Oprah Winfrey, uma das mulheres mais ricas e bem-sucedidas do mundo. Grandes lideranças nas áreas econômica, social, política e tecnológica – inclusive na própria África – completam o time nesta reportagem.

O RANKING DE SUCESSO AQUI NO BRASIL AINDA ESTÁ RESTRITO A ÁREAS COMO FUTEBOL E ARTES. […] CONTINUAMOS FORA DA MESA DAS GRANDES DECISÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS QUE DOMINAM O CENÁRIO DO MAIOR PAÍS NEGRO FORA DA ÁFRICA

O ranking de sucesso aqui no Brasil ainda está restrito a áreas como futebol e artes, com um caso ou outro fora destes segmentos, como a empresária carioca Zica, apontada pela revista Forbes como um das dez maiores empreendedoras do país. De resto, continuamos fora da mesa das grandes decisões políticas e econômicas que dominam o cenário do maior país negro fora da África.

Mas é Natal, tempo de paz e esperança. Ao reunir esse time de vitoriosos, além da afrodescendência, pudemos notar uma coisa em comum entre eles: todos, sem exceções, em algum momento de suas vidas tiveram que enfrentar a discriminação. Para eles, foi apenas um obstáculo para que pudessem alcançar o sucesso, portanto, são ou devem ser inspirações para gente como a gente – grandes exemplos de força e superação que demonstram “uma estranha mania de ter fé na vida”, como diz Milton Nascimento.

 

 

Fonte: Raça Brasil 

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