O negro no espaço corporativo

Há pouco tempo fui procurado por um CEO de uma grande companhia disposto a iniciar seu programa de Ação Afirmativa, mas com muitas dúvidas de como abordar o assunto. Haviam questões das mais complexas, como tratar do assunto dentro da empresa, até coisas mais simples, como qual palavreado usar ao se direcionar aos seus colaboradores.

Por  Mauricio Pestana para o Portal Geledés 

As perguntas eram as mais diversas: “Eu os chamo de negros, pretos, afrodescendentes ou pardos? Como me expressar para não reproduzir preconceitos? Como não parecer paternalista e nem segregador? Como lidar com o restante dos não-negros dentro da empresa para que não pareça que estou protegendo os negros?”

A primeira coisa que lhe disse é que ele já estava no caminho certo, pois enfrentar o problema da diversidade no ambiente corporativo deve ser precedido de três preocupações fundamentais.

  1.  Não achar ou induzir seus subordinados a acreditam que Ação Afirmativa tem a ver com filantropia, paternalismo ou terapia para resolver problemas de culpa. Ação Afirmativa e diversidade faz bem para negócios e para a lucratividade da empresa.
  2. 1. A preocupação com os não-negros dentro da empresa é crucial para que o  programa de Ação Afirmativa tenha sucesso. Para ganhar os não-negros o dirigente precisa apelar para todos os recursos e informações disponíveis sobre diversidade, tal como dados históricos, percentuais atualizados acerca das diferenças sociais e econômicas entre negros e brancos no Brasil e principalmente as cartas-princípios de todas as empresas, que em sua maioria dão conta de algum princípio que é sinônimo de igualdade, respeito e justiça traduzido em igualdade racial;
  3. Sempre digo que gosto de ser tratado como trato as pessoas, e não costumo chamar ninguém de branco, chamo sempre pelo nome. Mas se for preciso elencar a característica e se for de branca, não terei problemas em chamá-la assim. Durante muito tempo usei o termo afrodescendente para todos os tons e características de pessoas com traços de negros, mas parei de fazer isso quando muitos brancos no Brasil passaram para usar de má fé e adentrarem no sistema de cotas raciais (principalmente em universidades e serviço público), usando um atalho da legislação ao se autodeclararem afrodescendentes – e não estão errados, pois se todos descendemos da africana Luci, o mais antigo fóssil encontrado na África. Assim, todos brancos e negros somos afrodescendentes. Considero, por fim, que o mundo privado deve estar mais atento e preocupado para que esse tipo de fraude não aconteça, pois quando adentramos nos espaços de poder do mundo corporativo o que notamos é a real ausência negra nesses espaços.
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