O povo nunca esteve tão perto do poder na Colômbia

Com Francia Márquez, a luta antirracista e a esquerda podem chegar à Presidência da República

FONTEFolha de São Paulo, por Ana Cristina Rosa
A candidata Francia Márquez, vice na chapa de Gustavo Petro à Presidência da República na Colômbia - Foto: Luisa Gonzalez/Reuters

Seja qual for o resultado das urnas no domingo que vem (19), o povo colombiano está de parabéns por valer-se da via democrática para alterar o curso da história do país. Não só tirou da disputa à Presidência da República o candidato do governo mas também incluiu a pauta antirracista no centro do debate político ao garantir a liderança eleitoral a uma candidatura de centro-esquerda integrada por uma mulher negra.

Trata-se de fenômeno histórico num país conservador, desigual e dominado pela elite, no qual a violência política tornou o assassinato de líderes sociais uma realidade sistemática.

Foi nesse cenário que o senador Gustavo Petro teve de acolher como candidata a vice-presidente da Colômbia em sua chapa a advogada Francia Márquez —uma negra de origem humilde, militante do antirracismo, do feminismo e do ambientalismo, que trabalhou nas minas da região do pacífico colombiano e foi empregada doméstica.

Francia conhece a realidade dos oprimidos e parece não ter medo de falar do que sabe. Por isso representa e incomoda muita gente. Liderou um movimento de denúncias de mineração ilegal que a tornou conhecida internacionalmente e teve de sair fugida de sua comunidade natal com os filhos em razão de ameaças de um grupo paramilitar.

Num tempo em que as versões muitas vezes se sobrepõem aos fatos, ela tem sido alvo de fake news de todo tipo, além de ofensas de cunho racial. “A Colômbia é uma sociedade conservadora e a possibilidade de uma mulher que poderia ser empregada doméstica ser governo e estar na Presidência da República desagrada a muitas pessoas”, observa a professora colombiana Mireya Perafán, da UNB.

Sagrando-se vencedora, a chapa Petro-Francia terá pela frente o enorme desafio de governar um país extremamente desigual e no qual a corrupção é apontada como principal problema. Contudo, como disse a própria candidata: “Já ganhamos por colocar o racismo na discussão política”.

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