O que de fato estamos fazendo pelo outro?

Buddhist monk, Matthieu Ricard attends the French employers' union MEDEF annual meeting in Jouy en Josas, outside Paris, Wednesday, Aug. 28, 2013. (AP Photo/Christophe Ena)

Em maio deste ano Matthieu Ricard – monge budista que foi honrado como “o homem mais feliz do mundo” pela mídia popular – esteve no Brasil para alguns eventos e eu tive o privilégio de participar de um encontro em que ele palestrou.

Por Raquel Rocha Do Brasil Post

Na ocasião, dentre várias citações e ideias tocantes, ficou para mim uma mensagem central: o ser humano é essencialmente bom. Sim. Esqueça tudo o que você já ouviu e ouve nesse sentido, desde “o homem é o lobo do homem” até “atualmente é tão difícil encontrar pessoas boas, honestas, etc, etc”. Somos TODOS potencialmente bons, o que necessitamos é descobrir como explorar este potencial e ajudar aos outros que estão ao nosso redor a fazer o mesmo.

Em seu livro A Revolução do altruísmo Matthieu cita um fato curioso. Uma pesquisa realizada com os norte-americanos fez a seguinte pergunta “quem você mais admira, o Dalai Lama ou Tom Cruise?” 80% responderam “Dalai Lama”. Entretanto, quando questionados, “qual dos dois você gostaria de ser?” 70% dos entrevistados responderam “Tom Cruise”. Isso, segundo ele, demonstra que reconhecer os verdadeiros valores humanos não nos impede de sermos “seduzidos pelo engodo da riqueza, do poder e da celebridade e de preferir a perspectiva de uma vida glamorosa à ideia de um esforço de transformação espiritual.”

Essa sedução que ele cita me incomoda bastante e, por vezes, me angustia. Em diversos momentos, me pego pensando o que estou fazendo para de fato ajudar quem precisa. E mesmo quando identifico algumas ações, a angústia ainda permanece: será que eu não deveria fazer mais? A resposta é sempre sim. No entanto tenho aprendido a cada dia que fazer o bem não necessita de grandes oportunidades, são pequenas sementes de amor a serem plantadas todos os dias. Precisamos abrir o coração ao outro para que ele também abra o seu a nós e nos mostre toda sua generosidade.

Claro que existe um enorme valor nas ações coletivas e super impactantes, entretanto, não é mandatório uma grande mobilização para praticar a bondade. Todos ao nosso redor carecem de amor, solidariedade e compaixão. Há uma frase atribuída a Madre Teresa que diz “Nunca se preocupe com números. Ajude uma pessoa de cada vez, e sempre comece pela mais próxima de você”. Direto, simples e transformador.

Desde que ouvi Matthieu falar, e comecei a ler o seu livro, volta e meia me lembro de uma frase que meu avô costumava dizer e sempre me marcou: “tem gente ruim nesse mundo, mas, com certeza, tem muito mais gente boa”. Era o jeito dele de falar sobre a essência bondosa do ser humano explicada pelo monge. Ele era um homem simples, com um coração amoroso e cheio de fé. Não possuía dados formais para confirmar suas palavras, somente uma rica experiência de vida pautada no desapego e na generosidade. Tinha sempre um sorriso no rosto e era verdadeiramente feliz.

Seu exemplo me deixou uma lição: se quisermos estar sempre cercados por pessoas do bem a maneira mais efetiva é procurar sempre fazer o bem e, assim, colher o melhor lado do outro. Pode parecer clichê e ao mesmo tempo desafiador, mas, com certeza, vale a reflexão e, principalmente, o esforço. Matthieu enfatiza em seu livro ser essa, juntamente com práticas de meditação, a única forma de se encontrar a felicidade. E, como eu disse no início, ele tem experiência no assunto…

Texto originalmente publicado no blog Céu de Nuances

 

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