O racismo que nos tira a autoestima já na infância

Lembro que, ano passado, ao conversar com a professora de artes do colégio no qual eu fazia estágio, ela me disse que, quando pedia pra turma fazer um autorretrato, as crianças negras (principalmente as meninas) se desenhavam como brancas, com cabelos lisos. E ao serem questionadas por ela, respondiam, com toda a sinceridade do mundo, que daquele jeito “era mais bonito”. Quando eu ouvi aquilo, fiquei meio perplexo. Por mais que eu soubesse que se amar e ver beleza em si mesmo fosse difícil pra nós negros, eu não imaginava que começasse tão cedo. O relato era sobre alunos entre 9 e 11 anos.

Enviado Caio Cesar dos Santos via Guest Post para o Portal Geledés

Mas pensando aqui e relembrando a minha vida, vejo que eu era igualzinho. Quem joga vídeo game vai saber que, nos jogos de futebol, é possível criar bonecos, dar nome, características etc., e eu sempre fazia os meus. E eram todos brancos! Alguns eu até escurecia um pouquinho a pele, mas no final, não eram absolutamente nada parecidos comigo. Eu fazia aquilo com uma naturalidade imensa. E isso é só um exemplo.

Dei uma aula sobre questões raciais há pouco tempo. E pedi que a turma me respondesse, com sinceridade, o que vinha a mente deles quando eu falava as palavras “príncipe” e “princesa”. E todos, alguns com certa vergonha, idealizavam pessoas brancas.

É uma questão preocupante porque o esteriótipo é tão forte, que tira nossa autoestima já na infância. E pelo que eu vejo da minha vida (e de todos os meus amigos negros), essa questão estética foi motivo de tristeza e dor por longos anos.

No fim, somos todos meio eurocêntricos. Mas sempre em desconstrução. Hoje eu olho essas meninas negras por aí e as acho lindas demais. Me olho no espelho e me acho lindo. Se amar enquanto negro é um processo longo e de muito enfrentamento, que eu espero que todos vocês, amigos(as) negros(as), consigam concluir.

-+=
Sair da versão mobile