O que é o protesto com braços cruzados da americana Raven Saunders

FONTEBBC
Medalhista de prata desafiou proibição durante premiações para chamar atenção para oprimidos e saúde mental (REUTERS)

A americana Raven Saunders protagonizou a primeira manifestação no pódio da Olimpíada de Tóquio, após ganhar a medalha de prata no arremesso de peso feminino.

Enquanto os medalhistas posavam para fotos, Saunders ergueu os braços e os cruzou em forma de X. Ela disse que o ato representava “o cruzamento em que todas as pessoas oprimidas se encontram”.

A jovem de 25 anos, que é negra, lésbica e tem falado abertamente sobre sua luta contra a depressão, disse que queria “ser eu e não se desculpar”.

Depois de competir, Saunders disse que pretendia chamar atenção para todas as “pessoas que estão lutando e não têm plataforma para falar por si mesmas”.

“Faço parte de muitas comunidades”, acrescentou Saunders, que comemorou depois de seu lance final de arremesso de peso.

A chinesa Gong Lijiao ganhou o ouro, e a neozelandesa Valerie Adams, o bronze, sua quarta medalha consecutiva na Olimpíada.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) relaxou a proibição de protestos antes dos Jogos de Tóquio, permitindo que os atletas “expressassem suas opiniões” durante coletivas de imprensa — mas as manifestações políticas ainda estão proibidas no durante as premiações.

A entidade disse estar “avaliando” o gesto, disse um porta-voz. Não está claro qual reprimenda Saunders pode enfrentar, já que o COI não informou sobre possíveis penalidades.

Saunders é grande defensora da saúde mental dos negros e diz que espera “inspirar e motivar” (REUTERS)

“Realmente acho que minha geração realmente não se importa”, disse Saunders.

“No fim das contas, realmente não nos importamos. Grito para todos os meus negros. Grito para toda a minha comunidade LGBTQ. Grito para todo o meu povo que lida com saúde mental. No fim das contas, entendemos que isso é maior do que nós e maior do que os poderes constituídos. Entendemos que há tantas pessoas que estão olhando para nós, que estão procurando para ver se dizemos algo ou se falamos por eles.”

A saúde mental dos atletas tem sido o foco da Olimpíada deste ano, depois que a superestrela da ginástica dos Estados Unidos, Simone Biles, desistiu de várias competições para priorizar seu bem-estar.

Saunders, que fez sua estreia olímpica no Rio de Janeiro em 2016, descreveu como considerou tirar a própria vida em 2018 enquanto enfrentava problemas de saúde mental.

Sua identidade foi consumida pelo arremesso de peso, disse, e ela se sentiu incapaz de escapar das pressões associadas ao esporte. Saunders buscou, então, ajuda de um ex-terapeuta e afirmou ter sido capaz de estabelecer uma relação mais equilibrada com o esporte, rumo ao sucesso.

“É normal ser forte”, disse ela sobre a situação. “E não há problema em não ser forte 100% do tempo. Não há problema em precisar das pessoas.”

Antes de seu gesto no pódio, Saunders já havia chamado a atenção dos fãs por seu cabelo verde e roxo. Ela também atraiu olhares por suas máscaras inspiradas nos personagens Hulk, da Marvel Comics, e Coringa, da franquia Batman.

Ela vê Hulk como seu alter ego — e um reflexo de como ela aprendeu a compartimentar, liberando poder de uma forma controlada.

O jornal americano Washington Post observou que, após seu evento, ela “foi em direção à zona mista, perguntando onde poderia encontrar champanhe e cantando ‘Celebration'”.

Saunders descreveu como ela cresceu assistindo às campeãs de tênis negras Venus e Serena Williams, “jovens negras com miçangas no cabelo, sem remorso”, e o que essa visibilidade significava para ela.

Ela agora espera inspirar outras pessoas por meio de suas próprias realizações — e sua honestidade.

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