Olodum improvisa festa para lembrar passagem de Michael Jackson pelo Pelourinho

No clipe que Michael Jackson gravou no Pelourinho, o nome da música era They Don’t Care About Us. Em português, “eles não ligam para nós”, uma referência ao problema da exclusão social. Mas, para alguns personagens que povoaram aquele cenário, a inclusão é que passou a ser a palavra de ordem depois que o astro pop pisou aquelas pedras seculares.

“Ele foi responsável pela divulgação do samba-reggae no mundo inteiro. Mais de cinco milhões de pessoas viram aquele clipe, que foi divulgado em 181 países”, calcula Nelson Mendes, diretor cultural do Olodum, em entrevista no mesmo local em que o grupo dividiu os holofotes com Jackson.

Neguinho do Samba, que fez os arranjos da música e comandou os 250 pecussionistas que acompanharam o popstar durante a gravação do audiovisual, vai mais longe. “A música do Olodum não é a mesma depois de Michael Jackson”, comenta o fundador da escola de percussão do Olodum.

“E ele foi importante também porque transformou a mentalidade daqueles meninos, que hoje são pais de família e entenderam que para serem bons têm de estudar, se dedicar”, acrescenta o músico, que recebeu a notícia da morte do artista, de uma amiga que mora nos EUA.

Embora admitindo que “demora de acreditar” na morte do astro, Neguinho do Samba fez questão de avisar qual era o objetivo da coletiva de imprensa, que foi convocada de última hora na Casa do Olodum.

CELEBRAR A VIDA –  “Estamos aqui para celebrar a vida de Michael Jackson, não para chorar sua morte”, sentenciou, antes de refazer os passos que o levaram até o Largo do Pelourinho naquele fevereiro de 1996.

Desta vez com um time bem reduzido, que foi reunido meio às pressas, ao sabor da chegada dos jornalistas interessados em repercutir a morte de MJ na Bahia, o Olodum se instalou nas escadarias da Fundação Casa de Jorge Amado para prestar uma última homenagem ao artista.

O trio de vocalistas não foi além do refrão de They Don’t Care About Us. Mas engatou clássicos da banda, como Protesto Olodum, improvisando uma festa no que até então eram apenas resquícios do São João.

Entre os participantes da festa, dois tinham razões especiais para celebrar a herança deixada pelo artista que foi vencido por uma parada cardíaca na tarde de quinta-feira, 25, em Los Angeles.

“Tocar com ele representou um ganho em minha vida. Passei a ser bem mais reconhecido, nacional e internacionalmente. Por onde eu passo, sinto o carinho das pessoas”, afirma o percussionista Ubiraci Ribeiro do Rosário, ou Bira Jackson, que adotou o sobrenome artístico em homenagem àquele que se tornou seu ídolo.

Na época da gravação do clipe, Bira tinha 24 anos e era o título de “Bad Boy” que incrementava sua alcunha. Hoje, aos 37, os tempos são outros mas ele ainda ostenta uma certa “marra”, capitalizando ao máximo o que ficou dos instantes registrados pelas lentes do cineasta Spike Lee.

“Faço um apelo aqui para eu conseguir uma passagem para ir ao enterro”, aproveita, sem deixar de lado o tambor e um enorme banner estampado com uma foto do grande dia, além de momentos em que aparece ao lado de outros artistas.

Ele, que também é dono de um bar no Pelourinho, enfatiza o instante em que se diz “consternado”: “Hoje não vou abrir, não, num momento como esse”.

LEMBRANÇA DE MENINO – Jeison Wilde de Jesus Queirós não precisou adotar nome artístico, pois o de batismo sempre soou internacional. Mas a estrela dele só começou a brilhar mesmo aos 12 anos, precisamente depois que Michael Jackson quebrou o protocolo e o convidou para dançar no meio dos 250 percussionistas que balançavam o Largo do Pelourinho.

“Despertou em mim a vontade de virar músico profissional”, diz o rapaz, que hoje está com 25 anos e é professor de percussão. Na época, ele integrava a escola mirim do Olodum e não fazia uma ideia muito clara do que significava a presença do ilustre visitante na comunidade onde morava.

“Minha mãe só me avisou:  ‘O rapaz é uma estrela. Se comporte, viu?’”, diverte-se, lembrando que recebeu a recomendação de não conversar com o artista. A distância entre os idiomas já dificultaria a comunicação, mas o rapaz sabe exatamente o que diria, se pudesse ser compreendido pelo astro: “Você é brilhante!”

 

 

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