ONU contesta governo sobre homicídios no país

República Centro Africana – Foto: ONU

Fonte: Diário de Pernambuco –



Genebra – A ONU rejeita os números apresentados pelo governo brasileiro indicando queda de 20% nos índices de homicídios no país, no período de 2002 a 2007. Ontem, o relator da ONU contra assassinatos sumários, Phillip Alston, afirmou ter “sérias dúvidas sobre a credibilidade” dos números mostrados. A Anistia Internacional, por sua vez, denunciou ontem que a polícia continua matando no Brasil e que não há qualquer mudança para lidar com a impunidade.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU reuniu-se ontem para ouvir o relato de Alston, que em 2007 fez uma viagem pelo Brasil para avaliar a situação. Os dados apresentados pelo governo apontam que, naquele período, o número de homicídios no país caiu 20%. “Tenho sérios motivos para colocar em dúvida essa queda”, disse Alston em uma conferência para a imprensa internacional. “O que acreditamos que está ocorrendo é apenas uma nova classificação dessas mortes, para que não haja o perigo delas serem registradas como homicídios”, disse.

Na opinião dele, uma das “aberrações” no Brasil é a possibilidade de os policiais poderem classificar mortes como “autos de resistência”. “Policiais alegam que podem atirar caso um suspeito resista a uma prisão. Os casos são simplesmente fechados e não há investigação”, disse. “Não temos nenhuma confirmação de fontes independentes de que essa queda de fato esteja ocorrendo. Muito pelo contrário”, complementou.

Dados da Anistia Internacional apontam que, em 2008, 400 casos de “atos de resistência” tenham sido registrados em São Paulo, além de mais de 1,1 mil no Rio de Janeiro.

Envolvimento – Em seu relatório, já publicado no final do ano passado, a ONU alerta que uma parcela da polícia no Brasil faz parte do crime organizado, é corrupta e os abusos cometidos não são punidos. “O Brasil tem um dos mais elevados índices de homicídios do mundo, com mais de 48.000 pessoas mortas a cada ano”, alerta o documento, baseado em dados de 2007. De acordo com o relatório, a taxa de homicídio é principal causa de morte entre jovens de 15 a 44 anos.

A constatação é de que as políticas de segurança não estão dando resultados. Para piorar, Alston constata que a política está intimamente envolvida com o crime e que conta com um esquema de proteção para evitar serem investigados pelos assassinatos.

Outra conclusão do documento é alarmante: viver sob o julgo das milícias formadas por policiais é tão perigoso como viver diante do crime organizado. Alston admite que o crime organizado “controla comunidades inteiras” no Brasil e impõe sua própria lei em algumas regiões.

 

 

Materia original: ONU contesta governo sobre homicídios no país

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