Orféu: trágedia afro-brasileira com astros baianos

Foram duas semanas de suspense e apreensão. Depois de rigorosa peneira para chegar aos 18 atores na nova montagem do clássico teatral Orfeu, o diretor carioca Aderbal Freire-Filho testou os escolhidos em várias posições. “No teatro, a estrela não é o diretor, nem mesmo o autor. A estrela é o ator, a atriz”, setencia o diretor. E para viver o casal protagonista da peça escrita por Vinicius de Moraes (1913-1980) e musicada por Tom Jobim (1927-1994) em 1956, Aderbal escolheu os baianos Érico Brás, 31 anos, e Aline Nepomuceno, 25.

Érico será o sambista carioca Orfeu e Aline, a doce Eurídice na mega montagem, que estreia quinta-feira no Canecão, no Rio, e depois segue para cinco capitais. Desta vez, a trilha sonora tem no comando adupla Jaques Morelenbaume Jaime Alem. A escolha representa uma virada na vida da dupla.

“Está sendo muito bom trabalhar como Aderbal. Para mim, que venho do Bando Olodum, é a oportunidade de experimentar outros caminhos”, afirma Érico. “É uma grande responsabilidade, estou muito no foco. É a chance de mostrar meu trabalho, que não sou apenas um rostinho bonitinho da TV”, pontua Aline.

PRESENÇA BAIANA

Morando no Rio – ele em Laranjeiras e ela, no Vidigal – Brás e Aline voltam a se encontrar depois de fazer par romântico num episódio de A Grande Família. Também estiveram no elenco da primeira e segunda temporadas da minissérie Ó, Paí, Ó. Ele integrou, ainda, a versão cinematográfica da peça do Bando Olodum.

Para participar de Orfeu, Aline trancou o curso de licenciatura em teatro na Ufba e Brás estará fora da nova peça do Bando, que estreia em outubro. É primeira vez que ele se ausenta de um trabalho do grupo desde que entrou para a companhia, em 1999.

Em Orfeu, Aline e Brás vivem uma morde final trágico, cujo desfecho acontece em plena terça-feira de Carnaval. Inspirada num mito grego, a trama ganha, literalmente, cor local. Vinicius escreveu a história, batizada de Orfeu da Conceição, para um elenco inteiramente negro e a ambientou numa favela carioca.

Cantor e compositor de sambas, Orfeu vive a derramar seu charme pelos morros cariocas, arrebatando o coração da mulherada. Ele se apaixona por Eurídice, provocando a ira de Mira, sua ex-namorada, que planeja a morte da rival. Vale ressaltar que a vingativa Mira é vivida também pela baiana Jéssica Barbosa, que participou no filme Besouro.

O time de baianos se completa coma cantora e atriz Verônica Barbosa, que assim como Jéssica mora no Rio, há bastante tempo. Para Brás, a experiência de trabalhar com música e dança no Bando Olodum foi fundamental para sua escolha. “Orfeu é um cara sedutor, encantador. Ele dá um acorde em seu violão e as mulheres se derretem. É uma peça que fala do amor, da paixão e do poder da música na vida das pessoas”, resume .

MENINA SAPECA

Com experiência teatral no Centro de Referência Integral de Adolescentes (CRIA) e como cantora de um grupo rap, Aline define-se como uma atriz que pode cantar. Sua Eurídice, detalha, é uma menina meio sapeca, meio dengosa: “Ela não tem uma sensualidade muito explícita. Sua relação com Orfeu é leve, de muita pureza”.

Aline e Brás se conheceram rapidamente nas gravações de Ó, Paí, Ó. Mas agora, diz a moça, a relação dos dois é de muita empatia:“Basta agente se olhar e pronto”. A personagem dela morre logo no primeiro ato da peça. Mas volta em belas aparições, para cantar canções que se tornaram clássicos na MPB como Se Todos Fossem Iguais a Você e Modinha.

FUTURO

Tanto Érico Brás quanto Aline Nepomuceno estão inteiramente focados em Orfeu. Depois da temporada carioca, a montagem segue para as cidades de São Paulo, Brasília, Goiânia, Porto Alegre e Curitiba, com agenda até outubro. Por enquanto, não há data prevista para Salvador, mas os dois atores torcem para que o estado entre na rota.

“Estou muito ansioso para levá-la para Salvador”, diz Brás, que já está às voltas com outros projetos, sobre os quais, por enquanto, não pode falar. Já Aline diz que só vai pensar em outros trabalhos mais tarde. “Quero terminar a minha faculdade, pois acredito na arte como como um caminho para mudar o mundo”, pondera.

orfeu_negro2
(Foto: Reprodução/ Correio)

+ sobre o tema

Um lugar chamado Notting Hill: os distúrbios raciais de 1958

Distúrbios raciais em famoso bairro de Londres tornaram evidentes...

Hoje na Historia, 14 de março de 1914, nascia Abdias Nascimento

ABDIAS NASCIMENTO  BIOGRAFIA (curta) Abdias Nascimento (1914-2011), poeta, escritor, dramaturgo, artista...

Dança do Lelê

(Embora o som não esteja com boa qualidade, vale...

para lembrar

Mano Brown exalta Pelé: ‘Lembro do cara preto de roupa toda branca’

O rapper Mano Brown escreveu uma mensagem em homenagem...

TJ-PR suspende feriado do Dia da Consciência Negra, em Curitiba

Medida cautelar foi pedida pela Associação Comercial e pelo...

DiALAB abre inscrições para laboratórios de filmes, séries e documentários

A DiALAB, plataforma internacional voltada ao desenvolvimento de carreiras, consultoria de...

TV CULTURA: Homenagem Consciência Negra

A TV Cultura fará semana de homenagem à Consciência...
spot_imgspot_img

Tia Ciata, a líder antirracista que salvou o samba carioca

No fim da tarde do dia 1º de dezembro de 1955, Rosa Parks recusou-se a levantar da cadeira no ônibus, para um branco sentar...

Diva Guimarães, professora que comoveu a Flip ao falar de racismo, morre aos 85 anos em Curitiba

A professora aposentada Diva Guimarães, que emocionou milhares de brasileiros ao discursar sobre preconceito durante a 15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de...

Documentos históricos de Luiz Gama são reconhecidos como Patrimônio da Humanidade pela Unesco

Documentos históricos de Luiz Gama, um dos maiores abolicionistas do Brasil, foram reconhecidos "Patrimônio da Humanidade" pela Unesco-América Latina. Luiz foi poeta, jornalista e advogado...
-+=