Os 10 melhores filmes de Denzel Washington, e seus 5 fracassos

FONTEPor Juan Sanguino, do El País
Denzel Washington (Foto: Jason Merritt/Getty Images)

“Quando era jovem, não planejava ser ator, porque não via pessoas como eu nos filmes”. Denzel Washington (Nova York, 62 anos, cujos melhores foram vividos em torno de Hollywood) cresceu sem ídolos negros para se inspirar (com a exceção de Sidney Poitier), então, decidiu converter-se nesse líder. Está há 30 anos encabeçando o pelotão, abrindo caminho para os que vêm atrás. Derrubou barreiras raciais, preconceitos e clichês como mais gosta Hollywood: fazendo dinheiro.

Sua trajetória equilibra como poucos o prestígio e o sucesso comercial. E nunca triunfou por ser negro ou apesar disso. Denzel Washington está no topo porque é um grande ator. Nada mais e nada menos.

Nenhum escândalo, nenhuma saída de tom (seu viralizado apoio a Donald Trump acabou sendo outro exemplo da moda de notícias falsas), nenhum deslize. Está há 34 anos casado com sua mulher Pauletta, com quem tem quatro filhos. Sua impecável fé cristã deixa-o tentado a mudar de profissão e se tornar pregador, mas sua mensagem de igualdade, integridade e justiça é muito mais eficiente e abrangente quando proclamada por meio de seus filmes.

Desde que a escola militar salvou-o de uma vida criminosa nas ruas, a honra tem sido seu motor artístico. E, se algum dia decidir subir a um púlpito e pregar, vamos todos segui-lo aonde quer que seja: nenhum outro ator consegue, desde a série Hospital até John Q ou Maré Vermelha, que nos coloquemos automaticamente ao seu lado. Agora, dirige seu quarto filme, Um limite entre nós, e conseguiu quatro indicações ao Oscar 2017 (já tem duas estatuetas: melhor ator por Dia de Treinamento, 2001; e ator coadjuvante por Tempos de glória, 1989). O sucesso de Um limite entre nós torna o filme um dos poucos longas sobre negros que não precisou de um personagem branco para atrair o grande público aos cinemas.

Fizemos um ranking de seus filmes. Os melhores (que são muitos) e os menos bons (que também existem)…

Os 10 melhores filmes de Denzel Washington

O melhor: 1. Dia de treinamento. (Antoine Fuqua, 2001)

O segundo Oscar de Denzel Washington foi um feito histórico: foi o segundo negro protagonista a vencê-lo, depois de Sidney Poitier, por Uma voz nas sombras (Ralph Nelson, 1963). Depois dele, dois afro-americanos também conseguiram a estatueta (Jamie Foxx e Forrest Whitaker), uma proporção infame que não se deve à falta de talento, mas à falta de oportunidades. Este policial corrupto, que acredita ter o direito de levar vantagem sobre todo mundo, torna-se um vilão para a posterioridade graças ao magnetismo do ator. Seu carisma consegue que, acima da repugnância que desperta, o espectador queira vê-lo na tela. O vigor de seu discurso gera uma sensação culpável de que, no fundo e de forma perversa, tem bastante razão. Nas mãos de outro ator, o detetive Alonzo Harris teria sido um casulo antipático. Mas Washington o aborda com uma qualidade tão tangível quanto inegável: a capacidade de se destacar mais que qualquer personagem.

2. Malcolm X (Spike Lee, 1992)

A América branca sempre preferiu Martin Luther King como a cara amável e amistosa da luta pelos direitos civis dos negros do que o radical Malcolm X. Mas Washington não tremeu quando optou por reivindicar as atitudes às vezes hostis e sempre controversas de Malcolm X. Seu rosto no pôster atraiu o grande público (branco), e a humanidade com que o ator interpreta o ativista consegue que, compartilhando ou não do seu ponto de vista, entendamos a decepção que o motivava. Hoje em dia, Malcom X embeleza a filmografia de Denzel Washington, mas, naquela época, muitos consideravam o filme um tiro no pé e uma contaminação de sua imagem entre o espectador médio. Ele não se importou: não chegou aonde chegou preocupando-se com o que pensam os outros.

3. Filadélfia (Jonathan Demme, 1993)

Na contramão da percepção geral, Tom Hanks não é o protagonista desta façanha sobre um paciente de Aids que leva a julgamento a empresa que o despediu. A figura principal é Denzel Washington. Ele embarca em uma viagem, aprende uma lição e funciona como a âncora que escolta o grande público através da história. Começa limpando as mãos depois de estendê-las ao paciente e acaba abraçando-o. O personagem de Hanks é uma vítima instrumental. O filme e suas piadas sobre homossexuais envelheceram, mas servem como relíquia do primeiro olhar de Hollywood (e, por extensão, do mundo inteiro) à injustiça perpetrada por Reagan e Bush contra as vítimas da Aids. Washington resistiu a protagonizá-lo porque não queria ser associado a um filme sobre gays. Mas, como seu personagem, finalmente entendeu que se tratava de um relato sobre a misericórdia humana. Um filme soberbo.

4. Chama da Vingança (Tony Scott, 2004)

Depois de um suicídio frustrado, um colega lhe diz que “as balas sempre falam a verdade”. A partir daí, sabemos que estamos em um filme com mais clichês que um monólogo de O clube da comédia. Os vilões são latinos, as cores parecem saturadas por um filtro de Instagram, os carros explodem facilmente e uma criança em apuros devolverá ao herói sua razão de viver. Não importa que cada cena transmita essa sensação de “já vi esse filme”, porque Chama da Vingança é um dos bons. Aos 50 anos, Washington reciclou-se como um homem duro e assegurou uma aposentadoria milionária. Seus personagens buscam justiça com serenidade, sem perder a calma e sem disparar contra o alvo errado. A moral da história é que, se alguma vez formos sequestrados (e Liam Neeson tem a agenda completa), colocar nossa liberdade nas mãos de Denzel Washington é sempre uma boa ideia.

5. Hurricane – O furacão (Norman Jewison, 1999)

Esta biografia do boxeador Rubin Carter quase consegue ser mais comovente que Hurricane, música dedicada a ele por Bob Dylan. Quase. O fator ‘família branca de classe média que ajuda o negro em apuros’ nos lembra que estamos nos anos 90. A dignidade com que Washington encara o personagem é o coração do filme. ‘Huricane’ Carter, apesar de seu espírito otimista, não hesita em colocar sal grosso na ferida (ainda sem cicatrizar) da desigualdade racial nos Estados Unidos: é preciso de muito pouco para um negro ser colocado na prisão. Até mesmo sem provas. O pesadelo americano daquele que poderia se tornar o melhor boxeador do mundo encontrou em Washington seu símbolo. O espectador quer vê-lo vencer, porque é Denzel Washington. Mas a vida real nem sempre termina em final feliz. Este filme expôs um dos episódios mais vergonhosos do século XX. E o fez com emoção e tensão.

6. Tempo de glória (Edward Zwick, 1989)

Esta história de escravos transformados em soldados é protagonizada por um homem branco que aprende a respeitá-los “apesar” de serem negros. Em uma curiosa, ainda que nada surpreendente, reviravolta, os negros (Washington e Morgan Freeman) cozinharam os brancos (os muito ‘pão de forma’ Matthew Broderick e Cary Elwes). Denzel ganhou o Oscar e mexeu na consciência do público com uma cena em que seus cílios parecem costurados. O vigor desta cena está no ator não cair, mas chorar por pura impotência enquanto tenta com todas as forças conter suas lágrimas. Denzel Washington demonstra neste filme que nunca será um dos que buscam brilhar: suas emoções são desvendadas a partir de seu olhar, não estão explicadas. Por isso, é um dos grandes.

7. O Colecionador de Ossos (Phillip Noyce, 1999)

Uma lenda urbana diz que o ator nega-se a beijar mulheres brancas na telona. Mesmo que seja Angelina Jolie. Este ‘thriller’ insinua que a camaradagem transformada em amizade que constroem os protagonistas acabará em romance. Nunca saberemos porque outra coisa que ele se nega a fazer é sequências. O sucesso deste filme confirmou que Denzel Washington era, oficialmente, o ator favorito dos brancos. Este status não apenas é deliciosamente rentável, mas também demonstra aos grandes estúdios que há mais de uma raça possível quando se busca um protagonista. E conseguiu isso sem que ninguém percebesse, sem alardes. Denzel Washington simplesmente fez seu trabalho, mas, enquanto isso, semeou um terreno que, quando apareceu em Hollywood, era pouco fértil para atores negros.

8. Um limite entre nós (Denzel Washington, 2017)

O ator exibe uma qualidade quase inata na maioria de seus personagens: mesmo quando eles cometem erros, as intenções são positivas. Nesta adaptação de uma das obras de teatro mais importantes dos Estados Unidos, Um limite entre nós, o protagonista fala sem parar. Conta anedotas para preencher o silêncio, para evitar ficar sozinho consigo mesmo. A frustração e a decepção levaram toda uma geração de afro-americanos a desconfiar do sistema, e este patriarca não deixa sua família respirar. Mas, apesar de sua atitude déspota, Washington consegue que a todo momento o espectador o compreenda e sinta pena dele. Essa capacidade é o que o torna, mais que uma estrela, um ator visceral. Um ator que, quando aborda um personagem encerrado em si mesmo, o interpreta com as entranhas.

Leia a matéria completa 

-+=
Sair da versão mobile