Os 25! Indígenas se formam no EJA Guarani

Os 25! Indígenas se formam no EJA Guarani

Uma formatura foi realizada no dia 12 de dezembro em Angra dos Reis, RJ. O que a torna diferente das tantas outras formaturas é que essa aconteceu no terreiro da Aldeia Sapucai e 25 alunos guaranis finalizaram o ensino fundamental através do EJA Guarani. O EJA, Educação de Jovens e Adultos, é uma modalidade da educação básica destinada aos jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram os estudos no ensino fundamental e no ensino médio. Responsabilidade das Secretarias de Educação dos Governos Estaduais, o curso que iniciou em outubro de 2012 e terminou em dezembro de 2014, foi organizado e realizado pelo Instituto de Educação de Angra dos Reis – UFF e pela Prefeitura de Angra dos Reis, através da Secretaria Municipal de Educação.

No Preservar e Resistir

Fotos: Barbara Andres

“Resultado de uma luta de anos!’, avisa o professor Argemiro Silva, o único professor guarani formado no curso de Educação do Campo no UFRRJ e que deu aula no EJA Guarani na Aldeia Sapucai. A necessidade na comunidade guarani de formação regular para a criação de uma escola fundamental indígena com professores indígenas foi o que moveu toda a engrenagem burocrática  para a realização desse curso. A presença de Argemiro com seu trabalho voluntário, garantiu a disciplina da língua guarani entre os alunos. Dos 35 inscritos formaram-se 25 jovens que hoje podem sonhar com a possibilidade de chegar a uma universidade. Para o formando Claudio Benites ou Claudio Karai Papa “foram muitas as dificuldades mas mesmo assim enfrentamos escola distante e mau tempo para concluir o curso”. Autor do poema “Resistência Indígena” que ganhou concurso literário em Angra dos Reis (RJ), Claudio tem grande interesse em continuar a estudar. “Tenho curiosidade sobre conhecimento “juruá” (nome que os guaranis dão aos homens brancos) mas não quero perder a minha cultura”, avisa.

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Para o professor doutor em Educação Domingos Nobre da UFF, a manutenção do conhecimento indígena é muito importante para a etnia guarani. O professor com especialização em educação e cultura indígena espera que o Poder Público possa implementar conforme previsto em lei, a educação regular que vai do ensino fundamental ao ensino médio, essa etapa sob responsabilidade do Governo do Estado do Rio de Janeiro. “O EJA Guarani representa um atraso histórico do governo do Estado do Rio de Janeiro”, explica Nobre. E o EJA Guarani só foi possível em função de uma parceria da Secretaria de Educação de Angra dos Reis e do IEAR – Instituto de Educação de Angra dos Reis da Universidade Federal Fluminense (UFF). Para a coordenadora do projeto Norielem de Jesus Martins, o EJA Guarani só foi possível por que a Prefeitura de Angra dos Reis em 2012, tomou como responsabilidade municipal a Educação no Campo e pode assim “realizar legalmente o EJA Guarani numa escola municipal do sertão”. O curso de dois anos obedeceu as regras do EJA mas teve um fazer diferenciado. “Cada professor trabalhava durante uma manhã, sem divisões de conhecimentos. Na aula era falada a língua guarani e avaliações eram realizadas com a participação das lideranças, os alunos eram incentivados a falar e os professores eram convidados a ouvir para entender as especificidades dessa comunidade” explica a professora Norielem.

Durante o curso foi realizada uma viagem à aldeia JaxYporã na Argentina para conhecer um pouco mais sobre os costumes guaranis Mbya, um subgrupo do povo guarani que habita a região em um amplo território da América Latina em que se sobrepõem o Paraguai, o Brasil a Argentina e o Uruguai. Foram 10 dias em que os alunos e os professores puderam conhecer e trocar informações entre indígenas. “Formamos quatro turmas de pesquisa e cada turma conheceu um pouco mais sobre o processo de demarcação da reserva, costumes e cultura dos guaranis Mbya” explica o professor Argemiro.  Entre erros e acertos professores entendem que o EJA Guarani foi um período rico de trocas de conhecimentos entre os participantes do projeto.  Para o professor Domingos Nobre agora é o momento de tirar do papel o que é de direito dos povos indígenas. “Esse respeito a cultura indígena deve se manifestar e se concretizar em ações públicas efetivas”, avalia o professor.

 

Fonte: Preservar e Resistir

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