Discutir como nossa sociedade encara as questões da homoafetividade entre homens negros. Desconstruir estereótipos e criar um espaço imaginário de liberdade para o amor. Tematizar e viabilizar um debate poético levando em consideração a sociabilidade e os direitos de homossexuais negros. Estes são alguns objetivos do projeto “Em Legítima Defesa”, da Cia. Os Crespos, que comemora em 2015 seus 10 anos de existência. O grupo montou uma programação especial que inclui quatro apresentações do espetáculo “Ainda… Numa Terra Estranha – Fragmentos a James Baldwin” (dias 17, 24, 31 de maio e dia 7 de junho de 2015, sempre às 20h, no Largo do Arouche,República), uma exibição de “Cartas á Madame Satã ou Me Desespero Sem Notícias Suas (dia 25 de maio, às 19h30, na Faculdade de Saúde Pública da USP, Av. Dr. Arnaldo 715, Pacaembu, Anfiteatro Prof.Dr. João Yunes) e uma palestra com o ativista e advogado Ozzy Cerqueira, dia 27 de maio, às 20h, na Funarte (Alameda Nothmann, 1058, Campos Elíseos). A programação tem Entrada Franca e tem recursos do PROAC LGBT.
O projeto “Afetos em legítima Defesa” é uma uma possibilidade de continuar discutindo com o público, através de mais apresentações, o tema abordado no último espetáculo da trilogia de espetáculos de “Dos Desmanches aos Sonhos” – a homoafetividade. “Sempre que podemos retomar um espetáculo tentamos aperfeiçoá-lo, dialogar com as coisas que vem se modificando ou não no mundo no período entre uma temporada e outra. É a chance de falar com mais gente, de buscar ouvidos novos e de insistir em algumas questões”, explica Lucélia Sergio, dos Crespos. Sidney Santiago Kuanza, também da Cia., explica que os Crespos querem fazer do momento presente uma possibilidade de ir ao cerne da questão. “A vida de milhares de pessoas pode ser profundamente afetada nos próximos meses, por exemplo, se o Estatuto da Família (que põe em pauta temas como a criminalização da homofobia e o direito ao casamento homoafetivo) for aprovado. Teremos um retrocesso secular em nosso país, é uma
justificativa legal para continuar a onda de violência que só cresce a toda população LGBTTI. Afetos em legítima defesa é uma provocação artística”, diz Sidney. Para elucidar
a questão a Cia. vai promover, de forma simbólica, um casamento gay em praça pública durante as apresentações de “Ainda… Numa Terra Estranha – Fragmentos a James Baldwin”.
A ideia de trazer este assuntos à tona parte do pressuposto que invisibilidade não é inexistência. O norte central do projeto “Em Legítima Defesa” é falar do direito ao afeto, ou seja, através de um ampla programação levar uma discussão social sobre o direito de ter direitos. A dupla marginalidade, assim como a vulnerabilidade, são os eixos da pesquisa. “Não queremos levar mensagens, mas construir no campo imaginário espaços de sociabilidade e liberdade, através dos quais possamos refletir a realidade que nossa sociedade impõe às pessoas que não se encaixam no formato branco, heterossexual, adepto dos costumes da classe média brasileira. O nosso objetivo é criar novas imagens possíveis, através da ideia de que o amor, e não o que se faz na cama, é o que importa e que os seres humanos podem conviver com as diferenças, respeitando as escolhas, as características e a vida de todos. Não queremos levar informação, mas discutir o assunto, abrir novos olhares para nossas vidas”, diz Lucélia Sergio.
O ator Sidney Santiago Kuanza explica que uma sociedade é feita justamente da sua diversidade, contudo, todos e todas devemos estar atentos e sensibilizados com as questões que envolvem o outro. Instrumentalizar e possibilitar que o teatro seja de fato um espaço para o debate e a rua um espaço genuíno de troca de experiências. “O diálogo é proposto para todo o conjunto da sociedade, porém sabemos que ainda a informação é um privilégio de poucos. A escolha do espaço ( Largo do Arouche ), justifica nosso interesse neste público homossexual e simpatizante jovem que usa a praça como um espaço de sociabilidade e liberdade”, contextualiza Sidney.
PROGRAMAÇÃO E LINKS DOS ESPETÁCULOS
“Ainda… Numa Terra Estranha – Fragmentos a James Baldwin”
Quatro homens ocupam uma praça pública e se apoderam de um microfone para contar suas histórias de amor e luta, expondo suas feridas e seus sonhos para quem quiser ouvir. Cenas do espetáculo:
“Cartas à Madame Satã ou me desespero sem notícias suas”
Em seu quarto um homem negro se corresponde com a figura mítica de Madame Satã. Fragmentos de histórias revelam através de cartas, trajetórias e casos de amor, numa cidade-país carregada de doenças, que mantém sob cárcere privado um jovem apaixonado que espera. Cenas do Espetáculo:
Palestra com Ozzy Cerqueira
O ativista, Mestre em Saúde Pública e advogado da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia) discute o tema “O corpo negro, sexualidade e vulnerabilidade – da (in) visibilidade à resistência”. O especialista fala sobre o recorrente (des) uso do termos Direitos Humanos, sobretudo o que tange a temas como homoafetividade e negritude.
Quem são Os Crespos
“Os Crespos” é um coletivo teatral de pesquisa cênica áudio-visual, debates e intervenções públicas, composto por atores negros. Formou-se na Escola de Arte Dramática EAD/ECA/USP e está em atividade desde 2005. Em 2006 estreou com o espetáculo “Anjo Negro”, com direção do alemão Frank Castorf; em 2007 volta ao palco com “Ensaio sobre Carolina”; em 2009 e 2010 apresentou o projeto “A construção da imagem e a imagem construída”; em 2011 estreou “Além do Ponto”, com direção de José Fernando de Azevedo.
Serviço – Projeto “Em Legítima Defesa”
Programação
“Ainda… Numa Terra Estranha – Fragmentos a James Baldwin”
Apresentações nos dias 17, 24, 31 de maio e 07 de junho de 2015, sempre às 20h
Local: Largo do Arouche, República
“Cartas à Madame Satã ou me desespero sem notícias suas”
Apresentação dia 25/5 às 19h30 na Faculdade de Saúde Pública da USP na Avenida Dr. Arnaldo, 715 – Pacaembu. no anfiteatro Prof. Dr. João Yunes.
Palestra com Ozzy Cerqueira,
Dia: 27 de maio de 2015, às 20h
Local: Funarte – Alameda Nothmann, 1058 – Campos Elíseos. 45 lugares
Entrada Franca
Foto em destaque: Reprodução/ Noticiario-Periferico