Reconhecer-nos como mulheres apaixonadas por outras mulheres não é simples e nem fácil, em uma sociedade que nos ensina desde o berço as cores que podemos usar, os brinquedos que devemos ter, as palavras que devemos dizer, as ações que devemos copiar e os corpos que devemos amar. Também não temos acesso normalizado a outros exemplos românticos, além do dito “tradicional”.
Crescemos sentindo que somos diferentes, por vezes, ensaiamos a dança que os outros fazem, beijamos as bocas que nos disseram que são as certas. E quem sabe assim, sentir que fazemos parte de algo. E quando buscamos nosso próprio caminho neste mundo, não somos aceitas. Mas, quando fechamos os olhos, vemos o que ninguém mais ver, um arco íris de possibilidades. Somos loucas, lobas ou revolucionárias?
Sobre nós mulheres lésbicas, entenda, o patriarcado1 ignora nossa existência, até não conseguir mais. Precisando assim, mudar seus métodos para continuar a violência, tentando nos calar, fingindo não nos ver, não nos ouvir, apagando dos livros nossos feitos, invisibilizando nossas faces, apontando como corretas as linguagens que nos subalterniza e nos exclui.
Quando mulheres escrevem livros, poucas pessoas querem ler, muito menos ainda querem utilizar como referências em seus trabalhos acadêmicos. Se forem autoras negras, seus escritos ficarão ainda mais tempo nas prateleiras. E se por acaso, o texto foi escrito por uma mulher negra e lésbica, o apagamento será multiplicado. Porém, o que a sociedade misógina, lesbofóbica e racista não compreende é que resistimos no passado e não desistiremos hoje.
Resistir é nossa forma de nos manter de pé, segurando nossas bandeiras e erguendo nossas vozes, com nossas pautas e sentimentos. O dia 29 de agosto é a tradução do esforço de nossas irmãs. Logo, é importante que continuemos lutando em muitas áreas, departamentos, carregadas de histórias, conquistas e memórias das nossas ancestrais. Mostrando para as que chegam a todo momento que vale a pena ser uma mulher que ama sem medo outra mulher.
Referências TERRA, Bibiana, et al (org). Dicionário Feminista Brasileiro: conceitos para a compreensão dos feminismos. Editora: Dialética; 1ª edição, 2022.
- Patriarcado é um modelo de organização da sociedade onde há o domínio do sexo masculino sobre o feminino, com práticas discriminatórias, técnicas, linguagens e opressões diversas (Souza, 2022, p. 403).
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Alandienis Souza Santos – Leciona história na educação do campo no município de Tomé Açu (PA). Mestranda em Ensino de História pela UFPA.
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