Bruno Garcez
Manifestações de preconceito como as expressas em redes sociais após a apuração de votos no primeiro turno das eleições, que deram uma ampla vantagem à candidata do PT Dilma Rousseff nas regiões Norte e Nordeste, vêm de “gente assustada por ter de dividir o elevador social com quem antes ia pelo elevador de serviço”.
A opinião é do cantor e compositor paraibano Chico César, um dos entrevistados pelo #salasocial – o projeto da BBC Brasil que traz à tona temas de repercussão nas redes sociais.
“Claro que há esse tipo de visão ainda, mas ela depõe mais contra quem a expressa do que contra os nordestinos ou nortistas. Trata-se de gente que perdeu privilégios ou que se sente insegura nem por ter perdido, mas por perceber que o outro que se encontrava abaixo dele na possibilidade de acesso aos bens e serviços agora não está mais. Encontra-se mais próximo, ou no mesmo patamar. É gente assustada por ter de dividir o elevador social com quem antes ia pelo elevador de serviço”, disse o músico.
“Há muita gente magoada por ter de pagar direitos trabalhistas a empregadas domésticas, por viajar de avião ao lado de gente que antes levava três, quatro dias para atravessar o país de ônibus, pelo fato de o filho do vigia de sua rua ou do zelador do prédio estudar na universidade, pois ele sabe que este rapaz ou moça não ocupará mais cargos de subemprego. Acho que temos de responder sempre ao preconceito. A qualquer preconceito, que às vezes também temos e nem percebemos.
Chico César, no entanto, não concorda com a atitude de alguns internautas que, supostamente para “dar o troco”, passaram a atacar paulistas via redes sociais.
“São Paulo não combina com generalizações. Elegeu prefeita a paraibana Luiza Erundina. Um pouco depois, o negro e carioca Pitta. É terra de punks e skinheads, de programa de auditório e poesia concreta, de uma das maiores paradas gays do mundo”, disse.
Para o cantor casos isolados de preconceito não devem ser generalizados.
“Há um pensamento conservador de destruição e esvaziamento da política com “P” maiúsculo que quer nos levar a pensar assim, a traduzir manifestações isoladas como tradução do todo. Esse pensamento conservador e desmotivador da grande política, esse sim, tem-se alastrado com o vasto apoio da mídia corporativa brasileira.”
Fonte: BBC