Para mulheres negras, violência política virtual marcará eleições de 2022

A vereadora de Niterói Benny Briolly fez boletim de ocorrência no dia 20 de dezembro após receber ameaças de morte por e-mail; mais um caso de violência política de gênero e racial (Foto: Reprodução/Instagram)

Se depender do retrospecto das experiências vividas por mulheres negras na política brasileira, a violência política de gênero, com recorte racial, será um dos desafios no caminho das candidatas com esse perfil que se propuserem a entrar na disputa por cargos públicos nas eleições de 2022.

“Violência é algo que sempre atravessa nossos corpos e, no ano que vem, é possível que tenhamos vários tipos de ataque”, avalia Gabrielle Oliveira de Abreu, coordenadora institucional do movimento Mulheres Negras Decidem, que também realiza formações políticas.

A preocupação não é sem motivo: nesta semana, a vereadora de Niterói Benny Briolly (PSOL), mulher preta e trans, foi mais uma vez vítima de ameaças de morte por e-mail. A parlamentar registrou ocorrência, e a polícia vai investigar o crime.

No Instagram, ela publicou foto segurando o boletim de ocorrência com a legenda: “Buscam me silenciar e me expulsar da cadeira que ocupo todos os dias. Mas sei que não estou só. Por isso sigo firme na luta por uma política que abrace as demandas de corpos como o meu”.

No primeiro semestre, ela precisou sair do país por segurança, após ter recebido mensagens com o mesmo teor.

Os dados mostram que as mulheres estão mesmo na mira desse discurso violento: em pesquisa lançada neste mês, o Instituto Marielle Franco concluiu que 80% das entrevistadas sofreram violência virtual, principalmente nas redes sociais, durante período de atividades eleitorais.

Para Gabrielle, ainda que sob ataque, políticas negras devem se engajar no ano que vem em campanhas mais próximas à população para angariar votos para suas candidaturas. “A população precisa enxergá-las como a potência que são.”

Mulheres negras na política: o que esperar em 2022

Embora formem a maior fatia populacional do Brasil (28%), de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mulheres negras são as menos representadas nas instâncias políticas. Segundo a ONU Mulheres, em 2020, apenas 8% das que se candidataram para o cargo de prefeita foram eleitas.

Nos cargos de vereança, a situação não é tão diferente: nas eleições passadas, quatro mulheres negras —Erika Hilton (PSOL), Luana Alves (PSOL), Elaine do Quilombo Periférico (PSOL) e Sonaira Fernandes (Republicanos)— assumiram posto na Câmara de Vereadores. A última vez que a população paulistana havia eleito uma mulher negra para o cargo foi em 2008.

Gabrielle explica que o aumento nas cadeiras conquistadas por elas caminha a passos lentos. Para mudar o jogo, a população precisa perceber que as candidatas são capazes de ter poder nos espaços públicos. “Elas estão aptas e interessadas em exercer cargos públicos, seja na vereança, no Congresso e até mesmo na Presidência da República, que é o nosso grande sonho.”

Agora é lei!

Em agosto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou a lei de combate à violência política contra mulher que, entre outras questões, determina que o estatuto dos partidos políticos contenha normas sobre prevenção, sanção e combate à violência política contra a mulher.

A violência política de gênero é caracterizada por comportamentos ofensivos, perseguições e agressões cometidos contra políticas especificamente por serem do sexo feminino. Há o agravante de mulheres negras e LGBTQIA+ também serem atacadas por questões raciais e de LGBTQfobia.

Neste sentido, Gabrielle diz que o movimento está em alerta para cuidar daquelas que são mais vulneráveis: negras, defensoras de direitos humanos e progressistas.

A pauta também está no radar do Instituto Marielle Franco. Em entrevista a Universa, a coordenadora da pesquisa “Violência Política de Gênero e Raça no Brasil”, Fabiana Pinto, afirma que o Brasil precisa compreender quais são os pontos que geram discurso de ódio e preconceito.

“A violência que essas mulheres sofrem está relacionada a quem elas são e não só às pautas que defendem. É pelo cabelo, por serem da favela. São sentimentos despertados pelo ódio racial, pela transfobia, pela lesbofobia. E o que elas são não podem mudar.”

-+=
Sair da versão mobile