Parcela de brancos com ensino superior é mais que o dobro da registrada entre pretos e pardos

Proporção de pretos e pardos na universidade cresceu 5 vezes nos últimos 22 anos, período em que o país implementou a política de cotas

A proporção da população preta e parda com ensino superior quintuplicou nos últimos 22 anos no Brasil. Ainda assim, essa parcela representa menos da metade do que é registrada entre os brancos.

Os dados são do Censo Demográfico 2022, divulgados na manhã desta quarta-feira (26) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No total, a proporção da população brasileira com mais de 25 anos com ensino superior triplicou entre 2000 e 2022.

Em 2000, o Brasil tinha apenas 6,8% da população acima de 25 anos com ensino superior completo. Em 2022, essa proporção subiu para 18,4%.

Apesar do avanço, os dados revelam que, apesar do acesso da população preta e parda ter crescido de forma mais acelerada do que entre os brancos, a proporção ainda está longe de ser igualitária no país.

O Brasil tinha 2,1% da população negra com ensino superior, em 2000. Esse número subiu para 5,2% em 2010, e chegou a 11,7% em 2022. Entre a população parda, a proporção passou de 2,4% para 12,3%, no período.

Entre os brancos, são 25,8% com ensino superior em 2022. Essa proporção era de 9,9%, em 2000, e 16,6% em 2010.

O aumento da parcela da população preta e parda com ensino superior completo foi impulsionado pela Lei de Cotas Raciais, sancionada pela presidente Dilma Rousseff (PT) em 2012. Assim, há 12 anos todas as universidades federais do país têm reserva de vagas por critérios raciais —obrigatoriedade que se estendeu para instituições de ensino estaduais e particulares do país.

Na época, a política foi questionada sob o argumento de que feria a igualdade de acesso à educação e poderia aumentar a tensão racial no país. Também havia os que defendiam que as cotas colocariam na universidade estudantes sem o preparo necessário, que acabariam desistindo dos cursos.

Mais de doze anos depois da sanção presidencial, diversas evidências científicas mostram que alunos cotistas têm desempenho similar aos não cotistas e abandonam menos os cursos.

Além disso, um estudo feito pelo Sou Ciência (Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência), vinculado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), mostrou que o número de alunos pretos e pardos nas universidades federais do país mais do que triplicou em 13 anos.

Juntos, esses universitários passaram de 17% para 49% dos matriculados nessas instituições de ensino no período. Em 2009, primeiro ano em que há informação sobre a raça/cor dos matriculados, as universidades federais tinham 135.121 estudantes que se autodeclaravam pretos e pardos. Em 2022 o número saltou para 515.699.

Loíse Lorena, 30, ingressou em 2014 no curso de psicologia na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). A instituição já adotava cotas raciais antes mesmo da lei federal, mas Loise conta que pretos e pardos ainda eram minoria nas salas de aula.

“Eu percebo uma mudança significativa nesses dez anos que estou na universidade. Agora, vejo turmas com muito mais alunos pretos e pardos na graduação. Esse número ainda está longe de nos representar quantitativamente na população, mas há um avanço”, diz Loise, que atualmente faz doutorado na mesma universidade.

Acesso desigual nos cursos de graduação

Os dados do censo mostram ainda como alguns cursos de graduação continuam excluindo a população preta e parda. Em 2022, 75,5% das pessoas com graduação concluída em medicina eram brancas—contra 2,8% de pretas e 19,1% de pardas.

Cenário similar ocorre em economia, em que 75,2% dos formados são brancos. Apenas 3,9% e 18,4% das pessoas com diploma em economia são pretas ou pardas, respectivamente.

A situação, no entanto, se inverte para graduações que costumam ser exigidas para profissões com menor remuneração. Em serviço social, por exemplo, 47,2% são brancos. Já pretos e pardos somam a maioria, 52% dos que têm graduação completa nessa área.

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