No texto intitulado “Por um #MeToo político: agressores sexuais não têm lugar nas eleições de 2022”, as 285 signatárias exortam “o mundo político a responder às violências sexuais e de gênero cometidas por nossos representantes”.
A maioria das signatárias são de esquerda, como a vice-presidente socialista do Senado, Laurence Rossignol, que já foi ministra dos Direitos da Mulher e a ex-prefeita ecologista de Marselha, Michèle Rubirola. A lista também inclui a deputada Sandrine Rousseau, derrotada nas primárias do partido Europa Ecologia Verdes, que definiram Yannick Jadot como candidato da legenda à sucessão de Emmanuel Macron, no ano que vem, e a deputada negra Danièle Obono, do partido A França Insubmissa, que já foi comparada a um “macaco” por uma rival da extrema direita.
A cinco meses das eleições presidenciais de abril de 2022, que serão seguidas de eleições legislativas para renovar o Parlamento, em junho, as signatárias destacam que “três candidatos ou pré-candidatos ao Palácio do Eliseu já foram citados por agressões sexuais” em diferentes testemunhos. “Isso não os impede, longe disso, de se considerarem dignos de ocupar a presidência da República. Isso mostra como a condição das mulheres e das vítimas é indiferente para eles”, dizem as autoras do texto.
O manifesto apela à vigilância nas próximas eleições legislativas. “Em junho de 2022, vamos eleger os membros da Assembleia Nacional. Hoje, entre os 577 deputados(as), alguns são autores de violências de gênero e sexuais”, denuncia o texto.
As mulheres que defendem o #MeeToo na política assinalam que no Parlamento francês, em câmaras municipais, conselhos departamentais e regionais até hoje são eleitos homens implicados e às vezes condenados por estupro, agressão sexual, abuso sexual de menor e violência doméstica.
“Afastar os autores de violência sexual e de gênero”
As 285 signatárias recomendam aos partidos que “ouçam as vítimas e façam um trabalho preventivo”. Na opinião delas, “o mundo político deve assumir as suas responsabilidades, afastando os autores de violências sexuais e de gênero de suas atividades e sendo exemplares no momento das nomeações” para cargos eletivos, principalmente porque pessoas envolvidas nesse tipo de crime ou delito “quando eleitas, bloqueiam as leis de defesa dos direitos das mulheres”.
Elas constatam que “a voz das mulheres foi liberada”, mas ainda falta os partidos políticos ouvirem as queixas e levarem em consideração o que é relatado pelas vítimas.
“A exigência de transparência e integridade exigida de nossos representantes também se aplica à sua capacidade de se abster da violência”, afirmam. “Aconteceram avanços de transparência financeira na vida pública. Quando haverá um progresso semelhante em relação à violência contra mulheres e crianças?”, questionam.
Por fim, as signatárias pedem às autoridades eleitas e aos líderes partidários que assinem “em massa” um compromisso de três pontos contra as violências sexuais e de gênero na política, elaborado pelas autoras da iniciativa. Um formulário no site metoopolitique.fr propõe aos interessados “não aceitar a candidatura”, “não patrocinar candidatos” e “não empregar” em campanhas e nos partidos pessoas suspeitas ou condenadas por violência sexual ou de gênero.
Desde o aparecimento do movimento #MeeToo nos Estados Unidos, em 2007, e principalmente a partir do escândalo envolvendo o ex- produtor de Hollywood Harvey Weinstein, a França registrou várias manifestações semelhantes, com hashtags criadas para denunciar as violências sofridas por mulheres no mundo do cinema, do teatro, da edição, no jornalismo, em agências de modelos, em universidades e agora na política.