Persevero ou desisto?

(Foto: Lucíola Pompeu)

Por:Fernanda Pompeu

O criador da badalada e excelente série Breaking Bad, Vince Gilligan, amargou sucessivas recusas antes de emplacar um piloto da série. Nenhuma emissora punha fé na sinopse que contava a história de um professor de química do ensino médio, excelente pai e doce marido, que se transforma num bigprodutor de metanfetamina, entrando de cabeça no sombrio e violento mercado de drogas.

Até que alguém acreditou e Vince Gilligan pôde montar uma equipe de roteiristas classe A, presenteando qualidade aos telespectadores. A saga da recusa sucessiva e da providencial aprovação é narrada no bom livro Homens Difíceis, de Brett Martin, editora Aleph. É fato que a dinâmica de obras incompreendidas ou recusadas é recorrente e portanto bem antiga.

Franz Kafka (1883-1924) permaneceu majoritariamente inédito em vida. Antes de morrer, aos 41 anos, pediu ao amigo Max Brod que, por favor, incinerasse todos os seus manuscritos. Entenda-se toda a sua obra. Para nossa felicidade, Max Brod não acatou a ordem de Kafka. Por conta disso, podemos ler O Processo, A Metamorfose, A Colônia Penal, Carta ao Pai, entre outras maravilhas.

Existiu um momento que tanto Gillian, quanto Kafka, acreditaram que não havia para eles nenhum lugar sobrando no mundo. Puxa, escritores ou não, já vivemos mais de uma vez a incômoda sensação de incompreensão e consequente exclusão. Quantas listas de negativas poderíamos preencher em nossas vidas?

A pergunta é: qual o momento de desistir. Melhorando, quem tem a autoridade de desqualificar um projeto? Antes que um apressadinho responda: “O cliente”, vale lembrar de uma famosa frase, muito citada por Steven Jobs Apple, atribuída a Henry Ford – criador de carros que levam seu nome.

Ford teria dito: “Antes de lançar meu primeiro carro, se eu perguntasse às pessoas o que elas queriam, teriam respondido que desejam um cavalo mais rápido.” Daí concluímos que nem sempre clientes, editores, produtores, CEOs têm razão ao rejeitar uma ideia. O que não quer dizer que eles estejam sempre errados. Às vezes, nossa produção está ruim mesmo.

O x da questão é decidir se o projeto vai para o escurinho da gaveta, ou se seguirá procurando a luz. A arriscada decisão de acelerar ou frear cabe ao criador, ou criadores. Mas pense bem antes de descartar o seu trabalho. Nem todo mundo tem um amigo chamado Max Brod.

Fonte:Yahoo

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