Pesquisa inédita constrói mapa de trancistas negras no DF

Lançado em 17/04 o projeto Tranças no Mapa inclui ações até agosto

FONTEPor Layla Marizandra Sankar, enviado ao Portal Geledés
Foto: Stock/Adobe

Pensar sobre como a tecnologia pode estar a serviço da ancestralidade é a proposta do Projeto Tranças no Mapa, que busca por meio do mapeamento digital participativo, exclusivamente para mulheres negras a partir dos 18 anos que tenham mais de 2 anos trançando, a construção da 1º Cartografia SocioCultural de Trancistas do Distrito Federal e Entorno.  O projeto estreou em 17 de abril e inclui programação até o mês de agosto. A iniciativa é um braço de um projeto mais abrangente, o Fios da Ancestralidade.

Além do mapeamento digital, será realizado uma oficina presencial em seis etapas, uma oficina online e a construção de um Mapa Afetivo onde será traçado as histórias orais de trancistas negras: em tecido, fotografias e no audiovisual. 

Trançadeiras/Trancistas são mulheres negras que fazem tranças afro, uma prática cultural de matriz africana, que se utiliza de diferentes técnicas de entrelaçamento dos fios do cabelo, entre as mais tradicionais, está o que se chama de Trança Raiz/Trança Nagô.

Idealizado e coordenado pela pesquisadora Layla Maryzandra, o Tranças no Mapa faz parte da pesquisa de campo do Programa de Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT) da Universidade de Brasília (UNB), com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. 

É uma ação de caráter inovador, pois iremos contar a História das Tranças por diferentes camadas de mapas, existindo uma busca comum por decodificar outros caminhos para valorização deste patrimônio cultural e afirmação identitária negra apontando caminhos para políticas públicas”, explica a pesquisadora. 

O projeto está intimamente relacionado à trajetória pessoal da pesquisadora. Layla Marizandra nasceu no Quilombo da Liberdade, em São Luís do Maranhão. Criada nas periferias do DF, começou a trabalhar como trancista aos 17 anos, observando sua mãe, que sempre trançou seu cabelo durante toda a infância, e nos Salões Afros da cidade.  

Militante do Movimento Negro e Educadora Popular, foi uma das co-criadoras do Fórum de Juventude Negra do DF, sendo também uma das coordenadoras nacionais do Fórum Nacional de Juventude Negra – FONAJUNE.

Interessadas em participar do projeto devem acessar o site  https://trancasnomapa.ushahidi.io/posts/create/15  e realizar a inscrição.   

Etapas do Projeto 

Em uma primeira etapa, o Tranças no Mapa busca desenvolver um Mapeamento Digital Participativo de Trancistas Negras do DF e Entorno. Para isso, irá utilizar um formulário online vinculado à plataforma Ushahidi, criada no Quênia em 2007, que ajuda as comunidades a transformar informações em ação com uma ferramenta intuitiva e acessível de crowdsourcing e mapeamento. 

Além disso, a plataforma Ushahidi ajudará no processo permanente de construção de banco de dados. Desde 2021 foi iniciado o 1° Pré – Mapeamento Participativo de Trancista Negras do DF e Entorno, assim como o 1° Mapeamento Nacional, onde já existe um registro de mais de 180 trancistas negras de todo o país, assim como a construção de um acervo da História Oral de Trancistas Negras de diferentes regiões do Brasil. Isso tudo será disponibilizado mais a frente, por meio de um acervo digital. 

Uma segunda etapa do projeto compreende os Mapas Afetivos, que acontece por meio de oficinas online e presencial, as quais têm por objetivo coletar dados e informações, construindo um mapa afetivo a partir de experimentações com desenho, pintura e bordado sobre tecido, discutindo conjuntamente o universo dos mapas afetivos e histórias de vida de trancistas negras. 

Pautada na estética do corpo como centralidade da preservação de práticas culturais relacionadas com o cabelo, a proposta é descobrir, durante as oficinas, como as mulheres negras trançadeiras, em seu cotidiano profissional, são transmissoras de saberes manifestos em modos de fazer e expressões que constituem a memória e a identidade de um povo.

 “Essas expressões culturais precisam ser reconhecidas enquanto patrimônio cultural afro-brasileiro para que seus atores, as trançadeiras, tenham seu ofício valorizado e garantido por iniciativas institucionais.”, destaca Layla.

Fios da Ancestralidade – Trata-se de um projeto de formação, criação e pesquisa que atua há cerca de 12 anos nas comunidades, organizações e escolas do Distrito Federal e entorno. A partir da estética de tecidos e penteados tradicionais africanos, vem buscando reafirmar o direito à memória social enquanto bens culturais, valorizando e salvaguardando a prática do trançar cabelos afro como modos de saber/fazer das comunidades urbanas e tradicionais afro-brasileiras.  

Em 2020, devido a pandemia, se tornou uma iniciativa também no campo digital através da página na rede social Instagram @fios.da.ancestralidade, onde é disponibilizado um Mapeamento Iconográfico dos Penteados Tradicionais Africanos e Afrodiásporicos.

SERVIÇO 

O QUÊ: LANÇAMENTO DO PROJETO TRANÇAS NO MAPA Construção da 1º Cartografia SocioCultural de Trancistas do Distrito Federal e Entorno. 

QUANDO: A partir de 17/04 até o mês de agosto

ONDE: As oficinas presenciais acontecem no Distrito Federal e entorno. Para a oficina online e participação no mapeamento basta acessar  https://trancasnomapa.ushahidi.io/posts/create/15

PÚBLICO ALVO: mulheres negras a partir dos 18 anos que tenham mais de 2 anos trançando.

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